“BONITO É SER FEIO”
O limaduartino Rafael Medeiros Ignácio, de 20 anos, está com a Exposição “Bonito é ser feio”, no espaço Occa, em Juiz de Fora. Seus desenhos, em giz pastel oleoso, podem ser vistos desde 04/07, quando aconteceu a Vernissage.
Rafael adotou o nome Rafa elmi, que surgiu da fragmentação de seu nome e a junção das iniciais de seus sobrenomes. A intenção era ter uma identidade única, simples, para as redes sociais e para um possível nome artístico. Ele cursa Artes Visuais na UFJF e, com a Exposição, concretiza um sonho de mostrar suas obras, em diferentes formatos e cores, discutindo o que é ser feio, grotesco, propondo uma reflexão, um olhar mais analítico, além do estético.
Rafa elmi explica que a cultura sempre esteve muito presente na sua vida, de diversas formas. Sua família tem uma veia musical muito forte, com pais, tio e primos músicos e a sua mãe é também uma ótima escritora. Ele conta que suas primeiras memórias com as artes foram com massinha de modelar, quando, ainda criança, fazia desenhos em cima do fogão a lenha. “Eu sempre brinquei muito sozinho e criava histórias e personagens. Minha mãe me perguntava como eu inventava tanta coisa e eu respondia que tirava da minha cabeça, naturalmente. Sou uma pessoa muito visual, muito inventiva. Então, no tempo livre que eu tinha em casa, durante a infância, eu exercitava assim a minha criatividade”.
Em 2022, Rafael mudou-se para Juiz de Fora, para fazer faculdade de Artes Visuais e voltou a ter um contato mais intenso e mais frequente com a arte como um todo. Ele considera essa uma experiência muito engrandecedora, porque expandiu muito seus horizontes, sua visão sobre as coisas. Nesse mesmo ano, se aprofundou mais na técnica do giz pastel, estudando o material. Isso influenciou completamente o seu trabalho, a forma que produzia e a mensagem que quis passar. “O giz é um material que deixa muita textura no papel, uma textura muito aparente. Meu primeiro desenho ficou com uma textura muito forte, as cores e tudo mais acabaram dando um aspecto meio sujo para o desenho, meio áspero, grotesco. Eu gostei muito disso e encontrei no giz pastel oleoso um material que me permitia expressar as coisas da forma que eu imaginava na minha cabeça”, ressalta.
O artista afirma gostar muito do aspecto sujo, grotesco dos desenhos e esse era um tema que já o interessava bastante. Acabou se aprofundando mais e produzindo diversas obras, no universo das coisas feias. Como já tinha uma coleção, surgiu a ideia de fazer uma exposição no Occa, por ser um espaço aberto, democrático.
O tema “Bonito é ser feio” foi escolhido porque sua produção artística vem de dentro, é algo pessoal, que toca e ele quer passar para as pessoas, comunicar da forma com que vê as coisas. “Eu sempre tive muito medo das coisas feias, grotescas. Com o passar do tempo, esse medo começou a se tornar uma curiosidade, que se transformou no fascínio e, hoje em dia, o feio é meu objeto de estudo. É a partir dele que eu desenvolvo a minha arte e que eu passo a mensagem que escolhi”, explica. Para Rafa elmi, a palavra feio tem uma força muito grande de chocar as pessoas, sacudir, tirar elas do lugar de costume, da zona de conforto. “Eu quis propositalmente fazer uma arte que as pessoas iriam interpretar como feia, que a princípio assustasse, que ia chocar pelo absurdo, justamente para questionar as pessoas sobre como se conceitua o bonito e o feio.”
O resultado final, com aquela aparência feia, não significa que o artista não teve uma preocupação estética, mas que existe uma técnica que desenvolveu para poder pintar, fazer a base, texturas, colocar as cores, as luzes, as sombras e, assim, chegar naquele resultado. “Meu objetivo principal com a Exposição é chocar pelo extremo, pelas figuras e pessoas desfiguradas, pelas partes do corpo contorcidas, machucadas. Enfim, parecendo até torturas mesmo. Queria colocar em pauta esse lugar do feio de provocar um olhar mais analítico, que fosse para além do estético”, completa.