TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE (TDAH)

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) tem recebido um espaço muito grande na mídia, em cursos para educadores e publicações mais informais, a fim de mostrar o aumento aparente de casos.
Tal transtorno tem sido estudado desde o século XVIII, à partir da escuta de relatos de crianças que se apresentavam “agitadas” e com “problemas de atenção”, iniciando-se assim a categorização dos sintomas. Portanto, em 1944 surgiu o termo “Lesões Cerebrais Mínimas” (LCM), nome esse proposto por Strauss, para associar os comportamentos aos sintomas. No entanto, as lesões consideradas para a construção do diagnóstico não eram localizadas no cérebro, de tal forma que, em 1960, a terminologia recebe a modificação para “disfunção cerebral mínima”, ao invés de lesão. Essa mesma nomenclatura continuou a receber modificações, até chegar ao que temos hoje: TDAH, que atualmente, segundo a descrição do DSM – V, possui 18 sintomas, sendo nove deles de desatenção, seis de hiperatividade e três de impulsividade. Para a definição do diagnóstico de TDAH, a criança precisa apresentar seis sintomas, sejam eles de desatenção ou hiperatividade, permanentes em ambientes diferentes, dentre outros critérios.
Nos dias atuais, vivemos um fenômeno no qual o desenvolvimento tecnológico avança com rapidez, exigindo de todos nós um aprendizado constante sobre o funcionamento do mundo e suas relações. O que exige também uma organização mental e emocional minuciosa. Deste modo, com a propagação alarmante dos casos de TDAH e outros transtornos, professores e pais têm se atentado ao comportamento das crianças, buscando associá-lo a quadros patológicos. E é desta forma que dúvidas e enganos ocorrem, pois crianças saudáveis, com comportamento de agitação ou concentração, podem ser confundidas com crianças que receberam (adequadamente) o diagnóstico de TDAH. Elkind (2004) sugere que, atualmente, exige-se das crianças um desenvolvimento acelerado e precoce, os quais trazem responsabilidades e demanda capacidades, aproximando-as mais da vida adulta que da infantil. Para ele, a nova concepção de infância pode ser resumida na metáfora do “Supergaroto”.
E por que as queixas ficam mais aparentes na escola? Porque podemos considerar a escola como a primeira instituição civilizatória do sujeito, externa à família, ou seja, onde a criança se depara com a convivência com o outro que é diferente, em um espaço “novo” e com regras a serem seguidas. Salomonsson (2008), psicanalista que atendeu crianças diagnosticadas com TDAH, relata que encontrou reações muito específicas em seus pacientes, os quais em sua maioria eram meninos. Ele percebeu que, em muitas situações, o brincar simbólico desaguava em uma atitude de violência, como forma de alívio do sofrimento. Ocorrendo, então, uma regressão no curso do desenvolvimento da criança, lançando-a de volta à fase anterior do desenvolvimento, a fase do pensamento concreto. Outros autores psicanalistas pontuam que as crianças com TDAH sofrem dessa falta de organização no pensamento, para suportar as frustrações da vida, o que está associado à dificuldade de representar, recriar o mundo e lidar com as perdas atreladas à nossa condição humana limitada, a de que não podemos tudo. Assim, a agressividade se apresenta com a agitação, visto que quando o foco da atenção está no medo e no fracasso diante da impossibilidade do todo, a violência e a revolta tornam-se via de escape da energia pulsional.
Outros dados ainda nos chamam a atenção para os perigos do diagnóstico de TDAH e seus tratamentos, como, por exemplo: a prescrição médica do metilfenidato e a não existência de pesquisas que comprovem, clinicamente, a eficácia deste medicamento (MOYSÉS, 2013; VIÉGAS & OLIVEIRA, 2014). Vale ressalta ainda que o metilfenidato tem efeito equivalente ao da cocaína, podendo causar dependência química. Assim, na adolescência, o sujeito pode procurar a substância que substitua o efeito da medicação que usava na infância (AJURIAGUERRA & MARCELLI, 1986). No ranking dos países que mais consomem o metilfenidato, o Brasil está em 2º lugar, perdendo somente para os Estados Unidos.
Diferentemente da psiquiatria (biologicista), que resume o sujeito a um conjunto de sintomas medicando-o, para a psicanálise, o que importa é compreender os significados dos sintomas, que são os representantes simbólicos do infantil, daquilo que não foi elaborado. De outra forma, o que nos é caro é a compreensão daquele sujeito que precisou desenvolver tal sintoma, para dar conta de uma organização mínima de sua vida, ou seja, para dar conta de sua própria existência.
Nadia Delgado Paiva

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