CRISE DOS FERTILIZANTES: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Ana Carla de Oliveira Baumgratz - Médica Veterinária

Os problemas com os fertilizantes tiveram início em 2021, como consequência da crise geopolítica internacional, que envolve países como Ucrânia, Rússia e Belarus, associada à transição da matriz energética que a China está enfrentando.
O Brasil destaca-se há muito tempo na produção de alimentos. Em contrapartida, passa longe de ser autossuficiente na produção de fertilizantes. Estima-se que 85% dos fertilizantes utilizados pelos produtores brasileiros sejam oriundos da importação de países como Rússia, Belarus, China e Canadá, sendo muito inexpressiva a produção nacional.
A crise dos fertilizantes inicia-se gradualmente quando uma série de sanções econômicas são colocadas a Belarus pela União Europeia e Estados Unidos, em meio às discordâncias das nações ocidentais às ações repressivas do presidente belarusso e à sua política com os imigrantes.
A Belarus é responsável por exportar certa de 20% do potássio usado no Brasil, sendo ele componente básico das principais fórmulas de adubo, o famoso NPK (nitrogênio, fósforo e potássio). A situação logística para a exportação da Belarus tem um novo entrave, visto que a Lituânia proibiu o tráfego do potássio por suas ferrovias, o que impossibilita a chegada do mesmo aos portos, medida tomada em reflexo ao início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Desde outubro/2021, a China encontra-se fora do mercado de exportação de fertilizantes devido à sua transição da matriz energética, migrando do uso do carvão mineral para uma fonte de energia renovável. Para que consiga atingir as metas ambientais, o governo chinês elevou o preço da eletricidade, tendo como efeito a redução da produção das empresas para evitar elevação nos gastos. Essas duas situações foram determinantes para a alta dos preços praticados em 2021: menor volume de produto no mercado e alta demanda.
No Porto de Vancouver, Canadá, referência internacional, o preço da tonelada do cloreto de potássio passou de UU$ 279, em maio, para UU$ 680, em dezembro. Com o avanço do conflito entre Rússia e Ucrânia à partir do início desse ano, as perspectivas de novos embargos ou mesmo dificuldades logísticas para escoar as produções já pioram a situação do mercado internacional. Existindo a possibilidade de novas sanções à Rússia, o que pode afetar diretamente os fertilizantes, impedindo a compra dos mesmos por qualquer país.
Além disso, já existe um sentimento de temor e medo entre as tripulações dos navios cargueiros que fazem o transporte desses insumos para atracarem nos portos das regiões de conflito. O governo brasileiro, há algum tempo, vem estudando uma forma de viabilizar o aumento da produção nacional de fertilizantes. Mas, em decorrência do cenário internacional, viu-se a necessidade de acelerar a elaboração e divulgação de um plano de ação nacional.
Em março, o governo federal divulgou o Plano Nacional de Fertilizantes, que se tornou referência no planejamento do setor a longo prazo (2025-2050). O objetivo é, basicamente, elevar a exploração de insumos em minas locais, para que, consequentemente, tenha-se um aumento significativo da produção nacional. A pretensão do plano é que, em 30 anos, a importação de fertilizantes caia para 60% e o país passe a ser um fornecedor de cloreto de potássio.
Em paralelo aos objetivos finais, o governo encarrega-se de desenvolver medidas para investimento em gás, infraestrutura de logística e estocagem, planos de pesquisa e desenvolvimento, além de ações para sustentabilidade e desenvolvimento de adubo orgânico. O solo brasileiro tem extrema exigência para fertilizantes, o que não acontece com nossos concorrentes diretos para a produção de soja, Argentina e Estados Unidos. Assim, no atual cenário, nos tornamos menos competitivos no mercado internacional. Apesar de toda dificuldade que vem sendo enfrentada, podemos ver como uma oportunidade no desenvolvimento de novas técnicas para o agronegócio, como a utilização mais consciente e mais eficiente dos adubos orgânicos, além da utilização em larga escala de alguns resíduos de mineração (pó de rocha).
Mesmo com todo o cenário desanimador, em 2021 houve uma alta de 19% da importação de fertilizantes, resultado da expansão das áreas agrícolas brasileiras. A Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em entrevista, afirmou que o Brasil tem estoque suficiente de fertilizantes para o início da safra 2022/2023 em outubro, mas que o governo vem buscando novas fontes, além do leste europeu, como o Canadá, alternativa para as importações futuras. “A capacidade e a resiliência do produtor e da cadeia do agro do Brasil é muito grande. Então uma coisa é certa: o produtor vai plantar.”, disse Teixeira, vice-presidente da AgroGalaxy.

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