ANTES QUE CAIA… CONHEÇA

Ao paralisar as obras do Ramal Ferroviário em 1926, na estação de Lima Duarte na Barreira, a E.F.Central do Brasil instalou ali um pátio de manobras, que ocupava toda a área em que se situa hoje Parque de Exposições Helso Neves. O pátio era dotado de rede de captação de águas pluviais, caixa d’água para abastecimento da caldeira das máquinas a vapor, desvio morto, chaves de mudança de via para manobras, além de área para depósito de materiais de reposição como dormentes e trilhos. Do lado em que está hoje a Rua Geraldo Ribeiro de Castro, plantou-se longa aléia de casuarinas, belas árvores que davam um ar europeu ao local. Disso tudo restam ainda o canal de drenagem, soterrado sob o asfalto, embaixo dos banheiros perto do Palco de Shows e a Caixa d’Água, hoje equipada para aproveitamento na lavagem de veículos de uso da Prefeitura. As casuarinas, velhas e maltratadas, tombaram uma a uma…
O fato de a estação de Lima Duarte ter ficado como ponta de linha, fez com que se construísse um mecanismo que permitisse à locomotiva virar seu sentido de tráfego, já que, invariavelmente, o trem teria que retornar à Juiz de Fora.
Há duas formas possíveis de reversão: o girador, giramundo ou gironda, onde a máquina é desengatada dos vagões e segue até uma plataforma circular, que é girada pela força humana ou mecanicamente, ou o triângulo de reversão, em que a máquina percorre sucessivamente cada lado de triângulo de frente, de ré e depois de frente, invertendo o sentido. A primeira forma é adotada em locais de reduzido espaço e menor movimento. Tem a vantagem de contar com menos chave de mudança de via.
Em Lima Duarte adotou-se a segunda forma: um curioso aterro em forma de triângulo, com vértices apontando, o primeiro para a direção da estação, o segundo para o Rio do Peixe e o terceiro para o Bairro Cruzeiro. Foi construído em plena várzea, no local hoje ocupado pela Estação de Tratamento de Águas e o Clube do Cavalo. Em cima dele, foram assentados os dormentes e trilhos e as respectivas chaves de mudança em cada vértice, em que se prolongava um trecho em reta, chamado rabicho.
Assim, após o desembarque dos passageiros e cargas, a locomotiva desengatava-se do resto da composição e marchava em direção ao triângulo, passando sobre a Ponte do Córrego dos Marmelos. No triângulo, seguia pela primeira bifurcação à direita, indo de frente até o leito do Rio do Peixe. Lá, em nova mudança de chave, seguia em marcha à ré pelo outro lado, indo até a entrada do Bairro Cruzeiro. De lá, por meio do acionamento de outra chave de mudança de sentido de via, seguia de frente de novo para a estação, onde, por meio de outra chave, penetrava pelo desvio, passava defronte à estação e ia até próximo a hoje Quadra Poliesportiva. Lá parava, e de marcha à ré, de novo, entrava na linha tronco e engatava os vagões deixados na plataforma pelo outro lado, ficando pronta para retornar à Juiz de Fora.
Essas manobras eram diárias e movimentavam o Pátio, por meio da ação dos manobristas, guardas chave, maquinistas. Era muito comum as crianças serem convidadas a embarcarem na máquina para acompanhar as manobras, ou fazê-lo às escondidas, por sua própria conta e risco, aproveitando-se da pouca velocidade de tráfego, praxe em caso de manobras.
Ao movimento das manobras unia-se o movimento das tropas de burro, dos carroceiros, dos carregadores, dos criados, dos animais. Tudo em torno do trem, naqueles anos, a única porta de saída para o mundo! De trem ia-se à capital de República. De trem chegavam os jornais, as máquinas, as novidades!
De trem iam os doentes crônicos e isolados, os tuberculosos e leprosos. Voltavam no carro fúnebre, todo preto, os mortos ilustres, cerimoniosamente recebidos na estação! De trem chegavam o Bispo, o Governador, os Deputados, Senadores. A estação era a vida e em nada lembrava a calmaria em seu redor, nos dias de hoje!
A foto acima retrata a Ponte sobre o Córrego dos Marmelos, um pouco do que restou da linha de reversão. Enlodada, quase levada por uma enchente, segue seus dias a caminho do fim, mas revela ainda sua força, nas formas, nos sinais do tempo e no seu brilhante passado!! Fica na Rua Benvindo de Paula, ao lado do Posto de Saúde, caminho de quem segue da Barreira para o Bairro Cruzeiro. Do velho triângulo resta a ponta do rabicho, que terminava no Rio do Peixe sem trilhos, no fundo da sede do Clube do Cavalo!
Conheça!
Antes que desapareçam!

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