A ESTRADA VELHA PARA BOM JARDIM
No início do século XX, a Zona da Mata e o Sul de Minas eram as duas mais ricas regiões do Estado de Minas Gerais. Apesar disso, a ligação entre as duas regiões era precária. Não havia ligação por ferrovia e as rodovias eram precárias.
Do lado da Zona da Mata, o município mais próximo do Sul de Minas era Lima Duarte, que fazia divisa com Bom Jardim do Turvo, na época distrito do Turvo, atual Andrelândia. Em Bom Jardim já chegavam nessa época os trens da Rede Mineira de Viação, que seguiam até várias cidades do Sul de Minas. Ligar Lima Duarte a Bom Jardim era, então, o trajeto mais fácil e eficiente, diminuindo as viagens de trem de dois dias para seis horas, em média.
Nesse contexto nasceu o Ramal de Lima Duarte, com o objetivo de ligar Benfica (Juiz de Fora) a Bom Jardim do Turvo (Andrelândia). As obras tiveram início em 1911, paralisaram em 1914, foram retomadas em 1918 e, aos trancos e barrancos, os trilhos chegaram a Lima Duarte em 1925. O prolongamento da ferrovia até Bom Jardim não ocorreu como se esperava, fazendo com que as sociedades lima duartina e juiz forana buscassem outras formas de efetuar a ligação tão pretendida.
Por volta de 1935, o Engenheiro Moacyr Catão começou uma campanha em Belo Horizonte para que a ligação fosse completada com uma estrada para automóveis, de construção mais simples e rápida. Escreveu artigos na imprensa, demonstrando a importância da ligação e seus benefícios para a economia do Estado. Buscando apoio político para a causa em Lima Duarte e Juiz de Fora, formou-se uma comissão que levou a proposta ao então Interventor Benedito Valadares, governante de Minas Gerais. O governador mostrou-se sensível à proposta e deu início aos trâmites. Após um tempo para ajustes e garantia de apoio do governo federal, marcou-se uma data para abertura das obras da rodovia.
No dia 13 de julho de 1937, partindo da Estação Central de Juiz de Fora, o governador e sua comitiva embarcaram às 13 horas em trem especial para Lima Duarte. Em Penido e Valadares, localidades do percurso, foram prestadas ao chefe do governo Mineiro expressiva e vibrante homenagem. Em Lima Duarte, a população em massa acolheu o governador e comitiva, com estrondosa manifestação de regozijo. A praça do Rosário, em homenagem dos Poderes Legislativo e Executivo municipais, passou a ser denominada Praça Governador Valadares, com descerramento e inauguração de placa. Nos atos de inauguração das obras da rodovia, falaram aos cidadãos o Governador Benedito Valadares e o comandante da 4ª região militar General Franco Ferreira, que salientaram a necessidade do serviço em apreço em benefício dos altos interesses de Minas.
As obras seguiram lentamente, por vários motivos. Certamente um deles foi a má aplicação dos recursos públicos, denunciada em vários órgãos da imprensa na região, em setembro de 1938. À partir de 1939 foram executadas as obras de arte, como assinalam as datas gravadas em baixo-relevo, nas faces das obras de arte da estrada, junto com a sigla S.V.O.P. (Secretaria de Viação e Obras Públicas)
A estrada, partindo do Pontilhão da Estrada de Ferro Central do Brasil, conforme planta existente no Arquivo Público Mineiro, seguiu pelas atuais ruas Manoel Otaviano Ferreira, Benvindo de Paula e Clemente Armando Moreira, atravessando o Rio do Peixe numa ponte de madeira que havia ao final da atual Rua do Horto, abaixo da atual Primeira Ponte. Transposto o rio, circulava acima do campo do Vila, seguindo pela encosta da margem esquerda, rio acima, contornando pelo Cai N’Água e Fazenda de José Ribeiro de Paiva (onde foi erguido um belo bueiro).
Cortava o atual bairro Poço da Pedra pela rua de baixo, na atual Rua Maria Valéria, seguindo até Perobas. Aí, numa rocha, à beira da estrada, ficaram gravadas as iniciais do nome do Engenheiro responsável pelas obras, V.A.F. (Vasco de Azevedo Filho), funcionário da Secretaria de Viação e Obras Públicas de Minas Gerais. Também em Perobas se fez construir uma fonte de água potável, por meio da captação e canalização de uma nascente de água potável, bem na entrada do povoado, sentido de quem vem de Lima Duarte. Essa fonte também traz as inscrições S.V.O.P. e o ano de 1939, grafado em baixo relevo numa cartela.
Adiante de Perobas, a estrada passava pelo campo do Perobas, atravessava para a outra margem do Ribeirão Rosa Gomes logo após o campo, retornando para a esquerda até ganhar de novo o vale do rio do Peixe e tomar o Vale do Ribeirão Rosa Gomes, um pouco antes do Cebola.
Ali a rodovia subia pela esquerda, ao lado da casa do Cebola, para se desviar das instalações da Usina Hidrelétrica que abastecia Lima Duarte de energia, inaugurada em 1918, passando bem no alto. Sempre desviando dos rios, para evitar a construção de pontes, chegava a Olaria pela parte baixa, atual Bairro Santa Marta.
De Olaria, a Estrada Velha seguia rumo São Sebastião da Vista Alegre (Quintilianos). Um pouco antes da entrada desse povoado, voltou-se para as bandas da localidade de Peleja, seguindo Via Vila Tomé em direção a Tabuão, cujo rumo abandona para se dirigir à Serra do Rio do Peixe e atingir Bom Jardim de Minas.
As obras seguiram lentamente, com constantes paralisações, sendo inaugurada somente em 30 de outubro de 1949, em Bom Jardim, ao tempo do Governador Milton Campos. A cerimônia contou com a presença do Secretário de Finanças do Estado de Minas Gerais, José de Magalhães Pinto, e do Secretário de Viação José Rodrigues Seabra, o representante do Comandante da Quarta Região Militar de Juiz de Fora, os prefeitos de Santa Rita de Jacutinga – João Câncio de Oliveira, de Juiz de Fora – Dilermando Cruz Filho, de Lima Duarte – Olímpio Otacílio de Paula, de Bom Jardim de Minas – Assis Rodrigues da Silva e de Andrelândia – Simplício Dias Nascimento, além de representante do Prefeito de Carvalhos e grande massa popular.
A rodovia não pavimentada foi executada segundo os parâmetros técnicos vigentes na época, sendo apenas compactada e ensaibrada, dotada de 7 metros de pista de rolamento, com mão e contra mão, sistema de drenagem de águas pluviais, pequenas obras de arte e inclinação controlada, conforme planta elaborada pela Seção Técnica da Secretaria de Viação e Obras Públicas do Estado de Minas Gerais.
A rodovia Lima Duarte a Bom Jardim aos poucos foi perdendo a importância. No trecho entre Lima Duarte e Olaria teve vários trechos abandonados depois que o leito da ferrovia foi abandonado e passou a ser utilizado como estrada. No final da década de 1960, a BR 267, moderna e asfaltada, toma-lhe de vez a primazia, passando a ser utilizada como estrada vicinal. Um triste fim para uma rodovia tão sonhada…
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