LIMA DUARTE E O MITO TIRADENTES
Até o final do século XIX, Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes, era um ilustre desconhecido da maioria do povo brasileiro.
A Independência do Brasil até então tinha como “heróis” o Proclamador Dom Pedro I e seu mentor José Bonifácio de Andrada e Silva, cognominado o “Patriarca da Independência”. Localmente, cada região tinha seu “herói”, quase sempre um personagem que se destacou nas guerrilhas de combate às forças portuguesas que não aderiram a São Paulo e Rio de Janeiro de imediato, caso dos estados do Norte e Nordeste. Na Bahia, por exemplo, sobressaiu a figura de Maria Quitéria.
Com o golpe de Estado perpetrado por militares do Exército, é implantada a República no Brasil, em 15 de novembro de 1889. Rapidamente, os articulistas “republicanos” trataram de construir uma imagem positiva para o novo regime. E precisavam de alguém que, de certa forma, traduzisse os ideais de independência na ótica da República, já que Dom Pedro e José Bonifácio eram monarquistas.
Surge então o mito Tiradentes.
As poucas informações a respeito do personagem podem ser obtidas nos Autos da Devassa, nome pelo qual ficou conhecida a transcrição dos depoimentos, petições e sentenças proferidas no julgamento dos inconfidentes. Propositalmente, de seu conteúdo extraíram o que melhor convinha para a narrativa republicana, ignorando pontos basilares.
O personagem recebe uma nova paginação. Foi representado com aparência próxima à de Cristo Salvador, barbado e de olhar altivo, corda atada ao pescoço, facilitando a assimilação por parte do povo de seu suposto papel de “salvador da Pátria”. Palavras por ele ditas, nos Autos da Devassa, sofrem releituras e ganharam novo sentido, favorável aos tempos republicanos. A traição dos companheiros é reforçada, potencializando o ser heróico, digno de representar os que queriam “o bem do Brasil”.
Jornais e publicações eram controlados pelo Governo Republicano. Logo, divulgaram-se muitos artigos que martelaram até que a massa assimilasse o “novo herói”.
De um momento para outro, tudo que se relacionava ao ilustre enforcado, ganhou ares de importância, sendo extremamente valorizado. Neste contexto, uma informação surge de Lima Duarte…
Em 1892, três anos após a Proclamação da República, foi localizado em Conceição de Ibitipoca, aos 115 anos, um contemporâneo de Tiradentes.
Severino Francisco Pacheco, nascido em São Miguel do Piracicaba, declarou haver conhecido e convivido com o Tiradentes. Servindo no Regimento de Cavalaria de Ouro Preto, aos 14 para 15 anos, Pacheco conheceu de perto o Alferes, que reunia os amigos numa casa que alugou no Largo do Rosário daquela cidade, onde iam cantar modinhas e tocar violão, arte em que Joaquim José Xavier era perito. Pacheco descreveu Tiradentes como alto, simpático, de belos graços e gênio alegre e folgazão.
As informações sobre Pacheco correram o Brasil. Logo foram solicitadas pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, agora à serviço da narrativa republicana, mais informações detalhadas sobre o “Herói”. O Presidente da Câmara e Agente Executivo Municipal de Lima Duarte na época, Major Manuel Victor de Mendonça, dirigiu-se pessoalmente a Ibitipoca, onde entrevistou longamente o lúcido Severino Pacheco, coletando o maior volume de informações que foi possível.
As informações foram publicadas em jornais de São Paulo, Rio de Janeiro e Juiz de Fora. Pacheco tornou-se famoso e recebeu uma pequena pensão da Câmara Municipal de Lima Duarte, que permitiu-lhe melhorar suas parcas condições de vida, até sua morte.
Visitantes de todas as partes do Brasil vieram a Ibitipoca, conhecer o “amigo” de Tiradentes.
Severino Francisco Pacheco faleceu em Conceição do Ibitipoca aos 22 de abril de 1894, com 117 anos. Seu funeral, custeado pelo Município de Lima Duarte, foi muito concorrido, com a presença das autoridades municipais, chefiadas pelo Presidente da Câmara, Tenente Coronel Major Manuel Victor de Mendonça, o qual, tornando-se amigo do falecido, fez questão de tomar a si uma das alças do caixão e levá-lo à sepultura, onde foi dignamente inumado.
Lima Duarte entra, assim no processo de formação do mito Tiradentes.
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