RODA SECA
O CORAÇÃO QUE PULSA NA MEMÓRIA
Uma geração inteira de lima duartinos foi marcada pela existência e memória afetiva ligada à Roda Seca, monumento que se erguia bem no coração da cidade, no antigo Largo da Liberdade, atual Praça Nominato Duque.
Antes do monumento, o local recebeu, em tempos remotos, um chafariz em coluna de ferro, erguido sobre uma base em degraus, que fornecia água para a população. Fotos das décadas de 1910 e 1920 trazem este chafariz, rodeado de pessoas em festas, enterros, procissões, sessões solenes do Tiro de Guerra e festas.
À medida em que as residências passam a contar com a rede de água encanada, o chafariz perde um pouco de sua importância, entrando em decadência e abandono, como símbolo de um tempo de “atraso”, sendo demolido na década de 1930. Segundo relatos orais, o velho chafariz foi enviado para Olaria, na época parte do município de Lima Duarte.
O Largo da Liberdade vai trocando de nome ao sabor da política: é denominado Praça Getúlio Vargas e depois recebe o nome atual, Praça Nominato Duque. Na memória dos moradores dos bairros, segue denominado como Largo, como o denominam até hoje os moradores com mais de 40 anos da Barreira, Bairro Cruzeiro e Afonso Pena.
A “Roda Seca” surge no contexto de mudanças ocorridas na década de 1960, quando a cidade passa por um processo de modernização, com a chegada da BR 267, construção de prédios em linhas modernas, calçamento de ruas, construção de novo prédio para o Fórum e uma nova rede de energia elétrica, mais potente e atualizada.
O Governador do Estado, Israel Pinheiro (PSD), deu um prazo de 12 dias para que o Prefeito Análio Moreira (UDN) construísse um monumento para abrigar a Placa de inauguração do novo sistema de distribuição de energia elétrica, que substituiu a Companhia Regional de Eletricidade, que forneceu energia à cidade de Lima Duarte desde 1918.
Apesar de adversário político do prefeito municipal, o que por lógica seria improvável, coube ao cidadão Lindomar de Paula Guimarães, professor do Ginásio Estadual de Lima Duarte e estudante de Direito em Juiz de Fora, aceitar o desafio proposto pelo governador, de quem era correligionário, e projetar e executar a construção do monumento em apenas 10 dias.
O próprio professor Lindomar nos traz a descrição do monumento e seu simbolismo:
“… As duas hastes como ponteiros de um relógio simbolizavam o tempo. Eram revestidas com pastilhas cerâmicas nas cores vermelha (Luta) e branca (Paz), uma metáfora da vida, feita de lutas e paz. A luta na paz levaria à vitória, simbolizada no V formado pelo encontro dos ponteiros.
A placa documentando a inauguração do novo sistema de distribuição de energia elétrica era ligada a uma roda denteada, simbolizando a indústria, destacando o papel da energia elétrica para o bem estar e o desenvolvimento humano.
No ponteiro horizontal havia um registro rotativo emissor de água e, embaixo, um canteiro de grama (água e verde), mostrando o respeito à sustentabilidade ecológica, com base em princípios defendidos por Le Corbusier. A posição dos ponteiros indicava qual deveria ser o sentido do caminhar, individual e coletivamente, ou seja, andar para frente e para cima, nunca para baixo.”
O monumento, inaugurado em 30 de agosto de 1969, segundo Lourival Brasil, foi apelidado popularmente de Roda Seca, certamente pela interrupção do fluxo de água em seu aspersor.
Sua existência marcou profundamente a vida de toda uma geração, que fez dele ponto de encontro, local de longos bate papos, ponto de referência. Os jovens se aproveitavam de sua posição privilegiada para paqueras, tendo sua silhueta, iluminada pela lua, testemunhado muitos encontros, que redundaram em namoros, noivados e casamentos. Durante o dia, era a vez dos mais velhos se reunirem ao seu redor, comentando fatos do cotidiano, relembrando velhas histórias.
Nos Carnavais e festas, todos nele se apinhavam, para ver a banda e os blocos passarem. Os veículos, naquela época podiam circulá-lo, e dependendo do movimento na “rua”, descer ou voltar, tomando outros rumos. Quem queria ser visto ou lembrado, passava pela “Roda Seca”
Apesar de sua importância como marco histórico, presença significativa na cena urbana, memória coletiva e lembranças individuais, o monumento foi demolido pela Prefeitura de Lima Duarte em 1989, dando continuidade ao processo de obstrução e secção da principal rua da cidade, para a construção do Calçadão.
Fique ligado!
Conheça mais fatos da História de Lima Duarte nas redes sociais acessando:
Facebook: grupo Lima Duartinos
Instagran: @marcohistoricold
CURTA – COMENTE – COMPARTILHE !
Colaborações, dicas, informações, críticas e sugestões pelos canais das redes sociais ou pelo e-mail: marcusilva.70@gmail.com.