Por onde Anda
Temos uma coluna no Jornal LD & Cia. para falar dos limaduartinos que saíram para estudar/trabalhar fora e hoje têm outra vida e família. Essa é uma forma de matarmos um pouco da saudade de nossos parentes, amigos ou conterrâneos e também de valorizar o esforço que tiveram e o estímulo que dão a tantos outros.
Antonioni Acacio Campos Moliterno tem 33 anos, é filho de Maria das Graças Campos Moliterno e Antonio Jarbas Moliterno (conhecido como Toninho). Ele saiu de Lima Duarte em 2010, para trabalhar e, depois conciliou trabalho e estudo. Hoje é Biólogo, professor, escritor e especialista no estudo dos insetos e comportamento, morando na República Tcheca.
Confira sua trajetória de vida:
Quando saiu de LD?
Saí em 2010, após terminar o ensino médio em 2008. Fui para Juiz de Fora somente para conseguir trabalho e, durante os 5 anos lá, dividia um apartamento com meu irmão e um primo.
Durante o ensino médio, trabalhava meio período em um horto florestal ao lado da BR-267. Investi o meu dinheiro em um curso de Inglês, o que ajudou-me na escola. Ainda lembro que resolvi fazer o curso por intermédio de meu amigo de escola e vida, Douglas Pierre.
Com o trabalho em JF, juntei dinheiro para carteira de motorista e para começar um curso preparatório para faculdade ou cursar uma faculdade paga. Com o FIES, consegui essa conquista. Antes de escolher o curso, passei pelas faculdades de Administração, Turismo e Design Gráfico. Porém foi o curso de Ciências Biológicas que ganhou meu eterno apreço. Cursei por 4 anos em Juiz de Fora, no período da noite e, após a faculdade, ía trabalhar. O trabalho no turno da noite, ou madrugada era muito cansativo! Não havia tempo para descansar, estudar ou lazer.
Porém tudo estava preste a mudar. Em 2012, passei no curso do SENAI de Juiz de Fora de Ferramentaria. Eu morava há cerca de 200 metros da sede do SENAI e trabalhava há 8 km. No Senai, ganhava uma bolsa, que era de grande ajuda. Eu era leigo na área da mecânica industrial e tive ótimos professores, até hoje sou muito grato ao aprendizado obtido pelo SENAI.
Em meados de 2013 e já formado pelo SENAI, decidi terminar a faculdade. Ainda durante a faculdade, fiz estágio remunerado na Embrapa Gado de Leite de Juiz de Fora, que também foi muito proveitoso e com excelentes mentores. Na época pude acompanhar de perto as pesquisas realizadas lá, que visam melhorar a vida do produtor rural. No último semestre do curso de Ciências Biológicas, participei de um seleto curso no INPE de São José dos Campos – SP. Foi uma oportunidade de observar de perto como é construído e usado os satélites em pesquisas espaciais, monitoramento de florestas. Além disso, eu sempre quis conhecer este Instituto.
Ao retornar de São Paulo, terminei a Faculdade, porém estava desempregado, contando somente com o auxílio da família. Comecei a trabalhar na Secretaria de Saúde de Juiz de Fora e pude juntar uma renda para viajar ao Sul do Brasil. Lá em Curitiba, fui aprovado no mestrado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná, em 2015. Decidi também realizar o Doutorado na mesma área. Lá estudei o mundo dos insetos, como vivem, desenvolvem e comunicam-se. Na verdade, os insetos estão em todos os lugares. Por exemplo, temos insetos que transmitem doenças, mas também insetos que fornecem medicamentos e alimentos, como o mel e o própolis.
Com todos os meus estudos durante o mestrado e doutorado, e após passar a pandemia, fui contratado pela Universidade de Ciências da Vida da República Tcheca, na capital Praga. Lá desenvolvo estudos relacionados aos insetos que interagem com as florestas de pinheiro, bem como sua relação com seu ambiente.
Além de fazer pesquisa, sou escritor de livros, que visam traduzir a ciência feita mundo afora e, principalmente, feita no Brasil para o público geral. Com humor, suspense e mistério, cada história é baseada em fatos reais. Além de entreter o leitor, é uma fonte de conhecimentos a cada parágrafo. O meu primeiro livro também homenageia a cidade de Lima Duarte e pode ser encontrado pelo site:
https://www.engenhodasletras.com.br/produto/as-aventuras-do-detetive-grasshopper-e-da-agente-cigarrinha/050
Tem parentes em LD?
Ainda tenho parentes em LD. A lista é grande: são irmãos, irmã, primos e primas, tios e tias, e madrinhas. Minhas férias tem sempre destino certo!
O que acha que LD mudou para melhor? E para pior?
Pelo meu ponto de vista, LD mudou sim, para melhor, porém pouco. Com experiência de morar em outros estados do Brasil e fora, acho que muito pode ser melhorado e aprimorado em várias áreas e setores.
Como você, como jovem limaduartino, avalia as oportunidades de estudo/trabalho na cidade?
Estas duas áreas poderiam ser aprimoradas. A experiência que obtive com o SENAI ou um instituto federal, poderiam ser inseridos em nossa cidade, juntamente ao ensino médio.
Qual conselho você dá pros jovens limaduartinos que estão na fase de decidir futuro/profissão?
Investir no conhecimento: curso de idiomas, técnico ou faculdade. Mesmo que seja o seu objetivo principal, eu vejo esses exemplos como degraus de uma escada. Assim somados, levam para o topo, ou seja, suas conquistas. Fiquem atentos às oportunidades! Há oportunidades que se repetem anualmente. Assim, na medida do possível, se preparem para elas com seu melhor.
Como você lida com a distância da família, amigos e terra natal?
Essa é uma questão difícil de lidar. Eu pude vivenciar várias experiências fora de Lima Duarte, Minas Gerais e do Brasil. Embora cada uma seja singular, cada uma tem uma história para contar. Atualmente moro há mais de 8000 quilômetros de distância. Um país que, de longe, fala português. O idioma local, o tcheco, é muito difícil. Lá somente me comunico em Inglês, ou às vezes um pouco em tcheco, dentro do meu conhecimento. O choque cultural inicialmente foi grande. Em contrapartida, a cidade é realmente muito linda, segura e de fácil acesso. Por outro lado, estar distante não somente da família e do país natal, pesou com o passar do tempo: a culinária, o jeito alegre que somente nós temos e o principal, a saudade da família.
Para minimizar esses fatores, eu estou em contato com amigos e família. Sempre procuro por ingredientes para fazer aquele prato que somente nós temos. Eu já viajei a vários países da Europa e digo: ninguém supera a nossa culinária! Além disso, sempre que possível, venho passar as férias no Brasil.