OS TRANSTORNOS DE DESENVOLVIMENTO TEA

Os transtornos de desenvolvimento/mentais, que se apresentam já na infância, têm recebido maior atenção ultimamente devido ao avanço de estudos científicos, bem como ao o que denomino de aumento aparente destes, quando na verdade penso que seja um aumento nos diagnósticos, seja por termos pesquisas e instrumentos de avaliação mais acessíveis ou por uma demanda mercadológica. O que é preciso, no entanto, é muita cautela do profissional, para não diagnosticar equivocadamente, mas também não atrasar em sua conclusão, para que o tratamento específico possa ser iniciado. Os profissionais que podem avaliar estas crianças para um diagnóstico são psicólogos, neuropsicólogos, neuropediatras e psiquiatras infantis.
Assim, como psicóloga, escolhi quatro dos transtornos mais comuns da infância, sendo eles: Transtorno do Espectro Autistas, depressão, ansiedade e TDAH – Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Falarei sobre eles à partir de minha formação psicanalítica. Como o assunto é extenso, neste artigo começarei a escrever sobre o TEA – Transtorno do Espectro Autista e, em outras oportunidades, falarei sobre os demais.
São muitas as questões em torno deste tema: se é genético, qual a sua causa, se tem cura. As famílias se vêem perdidas e atormentadas com preocupações sobre o cuidado e educação. Provavelmente as respostas a estas perguntas são variadas, pois dependem do ponto de vista científico de cada vertente. A criança autista traz à família uma nova forma de funcionamento a respeito da comunicação e das relações interpessoais e, como já dito, neste texto escreverei sobre o que a psicanálise pode contribuir e tratar.
O ponto inicial do tratamento é observar o modo de existir daquele autista. A criança autista geralmente apresenta limitações qualitativas na interação social, na comunicação (incluindo a fala) e no comportamento repetitivo. O DSM – V Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais classifica o autismo segundo níveis diferentes de gravidade. No nível 1, estariam os que demandam um suporte ou apoio; no nível 2, os que demandam um suporte substancial; e, no nível 3, os que demandam um suporte muito substancial.
Interessante que a palavra “autismo” deriva da palavra “autoerotismo” que é um conceito de Freud (considerado o pai da psicanálise) em sua teoria sobre a libido. Assim a palavra autismo explica uma forma de funcionamento psíquico que não reconhece a existência do outro, ou seja, não utiliza o outro corpo/pessoa como objeto de investimento ou obtenção de auxilio e satisfação. O autista possui seu mundo à parte e os objetos aos quais ele tem extrema ligação, o que pode parecer até mesmo uma paixão, na verdade são entendidos como partes dele mesmo. O autista somente consegue extrair algum tipo de satisfação quando está voltado para si mesmo e qualquer “invasão” do outro, como o olhar, a voz, o barulho, causa tamanha angústia, que ele aciona seus modos de defesa, como tampar os ouvidos, começar a proferir falas repetitivas – as chamadas ecolalias, que o transporta novamente para seu mundo solitário.
No entanto, para a psicanálise, o desligamento do autista com a realidade nunca é total, e isso nos dá a possibilidade de estabelecer algum tipo de relação com ele, inserindo-o, dentro do possível, no laço social. Isso quer dizer que a psicanálise vai olhar para estes objetos aos quais ele tem afinidade e as formas como ele se defende do mundo externo, pois é desta maneira que o autista nos mostra a sua forma de organizar a realidade que, para ele, se apresenta caótica. À partir disto, o psicanalista irá investigar uma forma de comunicação e troca de afeto. Isto pode e deve acontecer com o apoio de outros profissionais como fonoaudiólogos, pedagogos, professores. O autista apresenta quase sempre uma forma de se comunicar particular, ele pode não se utilizar da fala, da voz, mas pode utilizar a escrita, a música, as imagens. O trabalho perpassa em compreender como este sujeito único, sem o Outro, conseguirá reinventar formas de se conectar com o mundo externo sem sair de sua condição de funcionamento artística, mas também sem se afundar em pura angústia.
Nadia Delgado Paiva

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