RUÍNAS DO PIÃO: UMA CAPELA NO ALTO DA SERRA
MARCO ANTÔNIO SILVA
Chegar ao Pico do Pião, na Serra de Ibitipoca, traz agradáveis surpresas. Além do frescor dos ares e da vista que encanta, pode-se ver ali, em ruínas, um altar e um pavimento em pisos hidráulicos, restos do que foi um dia, uma bela capela.
O local, ainda hoje de difícil acesso, faz-nos pensar nos motivos que levariam pessoas a erguer um templo naquele local, ermo e solitário, batido pelos ventos, longe de tudo e mais ainda, por que teria sido abandonada, entrando em ruínas?
O projeto de se erguer uma da capela no Pião, surgiu nas primeiras décadas do século XX, quando a Serra Grande (nome regional dado à atual Serra de Ibitipoca), começa a ser pleiteada para sediar um hospital para tratamento de tuberculosos.
Até ali, a Serra Grande era considerada Patrimônio da Santa, ou terra da Igreja, utilizada como pasto e para extrativismo de capim para colchões, macelas e plantas medicinais, de uso comum de todos os ibitipocanos.
O Estado de Minas Gerais, em vista do empenho da Liga Mineira contra a Tuberculose, tratou de verificar a posse das terras, verificando a inexistência de documentação de posse por parte da Igreja, considerando-as terras devolutas, apesar de no senso comum, as terras integrarem o Patrimônio da Santa.
A solução encontrada pela Igreja foi garantir a posse das terras, dando-lhes uso.
Em 15 de agosto de 1925, é celebrada no Pico do Pião a primeira missa, diante de um cruzeiro e altar improvisado. Surge daí a ideía de erguer um templo no local, como forma de garantir a posse das terras para a Igreja.
Com aval do Bispo de Juiz de Fora, Dom Justino José de Santana, e sob o comando do Pároco de Bias fortes, Pe. Otávio Rodrigues Pereira, um grupo de fazendeiros, se incumbe da empreitada, chefiado pelo fazendeiro Francisco Borges de Medeiros. Estes constroem então uma capela, que foi denominada de Capela do Senhor Bom Jesus da Serra Grande ou Bom Jesus do Pião, benta em 10 de Agosto de 1932, pelo Padre Henrique Guilherme da Silva, Pároco de Lima Duarte. Padre Henrique torna-se até sua morte um entusiasta das festas e celebrações no local, a ponto de a capela ser conhecida popularmente como Capela do Padre Henrique.
Ao longo dos anos seguintes, a capela seria local de celebrações e afamadas festas, com leilões e barraquinhas, animadas por bandas de música de Bias Fortes, Santa Rita de Ibitipoca e Lima Duarte, reunindo devotos de toda o entorno da Serra Grande.
Seguindo em seu intento, o Governo do Estado de Minas Gerais acabou vencendo a disputa judicial, garantindo a posse das terras, reconhecidas como devolutas.
A capela perde então seu objetivo real, agravado com o falecimento de Padre Henrique em 07 de agosto de 1937, entrando em abandono e estado de degradação e ruína.
Em 1940, estando totalmente arruinada, líderes da comunidade de Mogol, providenciaram o desmonte do restante do telhado, porta e paredes, deixando apenas o piso hidráulico e o altar em alvenaria.
Com os tijolos removidos, ergueram no povoado de Mogol, na praça em que se localiza a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, logo acima do coreto, uma pequena ermida, onde entronizaram a imagem do Bom Jesus, que ali permanece até os dias atuais.
Com a escolha de Campos do Jordão para a construção de uma grande estância para tratamento de tuberculosos e a posterior invenção da penicilina, a tuberculose é controlada. As terras da Serra Grande, agora do Estado, comporiam mais tarde a Fazenda do Ibitipoca, núcleo originário do Parque Estadual do Ibitipoca, inaugurado em 1973.
As ruínas, desde então servem de poleiros para fotos e selfies, um triste fim para um local de tanta fé, devoção e tantas festas.
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