MASTITE EM BOVINOS

Ana Carla de Oliveira Baumgratz - Médica Veterinária

Mastite ou mamite é uma inflamação da glândula mamária, causada principalmente por microrganismos, tais como bactérias, fungos, leveduras e algas. A inflamação é um dos componentes da resposta imune da vaca para eliminar os microrganismos, neutralizar toxinas e auxiliar na regeneração dos tecidos mamários afetados.
Este processo inflamatório é acompanhado de modificações físico-químicas do leite, como alteração de coloração e presença de coágulos, com grande número de células de defesa (leucócitos) – sendo, por isso, um dos principais causadores de prejuízos para os produtores de leite.
A doença pode ser classificada de acordo com diferentes critérios, mas os mais utilizados são baseados: nas formas de manifestação (clínica e subclínica), nos tipos de agentes causadores (contagiosa e ambiental), e na duração (hiperaguda, aguda e crônica).
Os casos de mastite clínica são acompanhados de alterações visuais no leite (grumos, coágulos, sangue, pus, leite aquoso), associadas ou não a sintomas visuais de inflamação no teto afetado (edema ou inchaço, aumento da temperatura, endurecimento e dor). Além disso, a mastite clínica pode ser acompanhada por sintomas sistêmicos, como aumento da temperatura retal da vaca, depressão, desidratação, diminuição do consumo de alimentos e redução abrupta da produção de leite.
De acordo com a gravidade, podemos classificar os casos clínicos em: leve (somente alterações no leite), moderada (alterações no leite e no teto afetado), e grave (o animal apresentará também sintomas sistêmicos). O diagnóstico da mastite clínica é relativamente fácil, visto que, apenas com o teste da caneca de fundo preto (realizado na rotina diária de ordenha), consegue-se identificar a doença, isso associado aos demais sintomas.
Por outro lado, a mastite subclínica é caracterizada pela ausência de alterações visíveis no leite e no úbere. No entanto, o teto afetado tem redução da produção, alterações de composição do leite (redução dos teores de caseína, lactose e gordura) e aumento da contagem de células somáticas (CCS). Os casos de mastite subclínica são um desafio nas fazendas produtoras de leite, visto que precisamos lançar mão de testes auxiliares na rotina de ordenha para a sua identificação, mas são de fácil execução e de baixo custo, o que possibilita a sua introdução nos programas de qualidade de leite. Esses testes auxiliares são o California Mastitis Test (CMT), Wisconsin Mastitis Test (WMT), a condutividade elétrica e a CCS. A prevalência de mastite subclínica é muito superior à mastite clínica, em torno de 90% dos casos manifestam-se de forma subclínica.
Quando passamos a tratar sobre os microrganismos causadores da mastite, nos deparamos com as contagiosas e ambientais. As mastites contagiosas são causadas, principalmente, por agentes adaptados à multiplicação na glândula mamária e causam infecções persistentes, sem sintomas clínicos graves. O principal reservatório desses patógenos é o úbere de vacas infectadas, sendo transmitidos entre os animais ou entre os tetos durante a ordenha.
A transmissão pode ocorrer através das mãos dos ordenhadores, por panos de uso múltiplo para secagem dos tetos e pelas teteiras, mas as moscas também desempenham papel de destaque nesse ciclo. Os casos de mastite contagiosa tendem a persistir de forma subclínica, com eventuais episódios clínicos. A melhor forma de controlar novos casos é adotando medidas preventivas, como: desinfecção dos tetos pós-ordenha, implantação de linha de ordenha (vacas contaminadas são ordenhadas por último) e descarte de animais crônicos.
Os microrganismos causadores de mastite ambiental são considerados agentes oportunistas, que geralmente causam mastites transitórias, graves. A fonte principal desses microrganismos é o próprio local onde as vacas vivem, especialmente onde há acumulo de matéria orgânica (esterco, urina e barro) e umidade.
É praticamente impossível erradicar a mastite ambiental, mas existem medidas que podem ser adotadas para prevenção das mastites ambientais. São elas: manutenção do ambiente seco e limpo, e a alta capacidade de resposta imune das vacas.
A mastite, seja clínica ou não, ambiental ou contagiosa, é um grande desafio diário para os produtores de leite que buscam a sanidade do rebanho e qualidade do produto final. Não existe possibilidade de criarmos um programa que consiga erradicar qualquer tipo da doença. O que se pode fazer é adotar uma série de medidas que sejam capazes de controlar e reduzir os casos mensais nas propriedades.
Quando o assunto é mastite, sejamos vigilantes e estejamos atentos para que o problema seja identificado o mais breve possível.

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