FRANCISCO VALADARES, O DEPUTADO DO TREM

Desde 1873 cogitava-se da implantação de um ramal ferroviário em terras lima duartinas. Porém, somente em 1911, teria início a construção efetiva do ramal, sendo inauguradas em 1914, as duas primeiras estações do trajeto, Penido e Igrejinha.
As constantes paralisações das obras, motivadas por pressões contrárias por parte dos políticos paulistas e fluminenses, bem como de cidades vizinhas, fizeram surgir na imprensa e no próprio meio político, muitos defensores dos interesses dos lima duartinos e dos mineiros.
Dentre eles, destaca-se Francisco Valadares.
Francisco de Campos Valadares, nasceu em Pitangui (MG), filho de Benedito Cordeiro de Campos Valadares e de Maria Luísa Valadares, sendo bisneto de Dona Joaquina do Pompéu, célebre líder política do interior do estado de Minas Gerais.
Bacharel de Direito, exerceu por longos anos a advocacia, exercendo também a função de Promotor de Justiça em Juiz de Fora e Rio Pomba. Casou-se aos 07 de janeiro de 1901 com Constança Vidal Barbosa Lage Valadares (Constança Valadares) e não teve descendência. Em Juiz de Fora, participou ativamente da vida da sociedade, tornando-se diretor-gerente do Clube Juiz de Fora, conselheiro da Santa Casa de Misericórdia, redator chefe do Jornal do Comércio, presidente da Academia de Comércio e do Clube de Esgrima, Tiro e Ginástica. Também nessa cidade participou da Companhia Central de Diversões, primeiro passo para a construção do Cine-Teatro Central, já que era de sua responsabilidade recolher verbas que seriam repassadas à Companhia Pantaleone Arcuri, incumbida da construção do prédio.
Seguindo a tradição de sua família e atendendo a pedido dos cidadãos, ingressou na política sendo eleito deputado estadual em 1903, permanecendo até 1912, quando é eleito deputado federal por Minas Gerais. Por sua atuação forte e perseverante em prol dos projetos relacionados a Juiz de Fora e região da Zona da Mata, foi reeleito para as quatro legislaturas seguintes, permanecendo como Deputado Federal por Minas Gerais até outubro de 1930, quando a Revolução comandada por Getúlio Vargas extinguiu todos os órgãos legislativos do país.
Assumindo seu primeiro mandato em 1912, tomou a si a defesa da continuação das obras do Ramal de Lima Duarte, paralisadas desde 1914 em Penido. Já no final do ano, consegue a consignação de verbas no Orçamento da União, que ainda assim permaneceriam paralisadas, sendo retomadas efetivamente apenas em 1921.
Seguiu combativo e assíduo à tribuna da Câmara Federal, onde discursou reiteradas vezes em favor da continuidade das obras, promovendo o debate em torno da importância da obra para Minas Gerais e o Brasil.
Na Imprensa, assinou vários artigos e concedeu muitas entrevistas sobre o ramal de Lima Duarte, esclarecendo dúvidas e demonstrando, reiteradas vezes, a importância da obra para a Zona da Mata, Minas Gerais e o Brasil.
Resultado da luta do deputado Francisco Valadares, a ferrovia avança as obras e, em 1923, as pontas dos trilhos atingem a localidade de Várzea do Carmo, atual Valadares, município de Juiz de Fora.
A inauguração da estação, ali erguida em terrenos doado pelo Coronel Camilo Guedes de Morais e às suas expensas, é realizada em 1º de Maio de 1924, recebendo o nome oficial de Engenheiro Navarro, que alguns dias depois, em 23 de maio do mesmo mês, é transferido para uma das estações recentemente inauguradas no ramal de Montes Claros. Com isso, a estação volta a ser designada como Várzea do Carmo, até que, em agosto de 1924, uma portaria do Ministro da Viação determinou que fosse denominada oficialmente de Valadares, em homenagem ao deputado Francisco Valadares.
Ao saber da homenagem, o deputado Francisco Valadares telegrafou imediatamente ao Ministro Francisco Sá, em 08 de agosto, agradecendo a homenagem e consideração, mas solicitando que este desse à estação o nome de Camilo Guedes, como havia sugerido ao Ministro, já que este era o desejo da população e o mais justo, uma vez que o coronel era líder inconteste e total merecedor da homenagem.
Respondendo ao telegrama, o Ministro Francisco Sá considerou que, embora merecida a homenagem ao Coronel Camilo Guedes, considerava seu o direito de perpetuar na estação ora inaugurada o esforço infatigável do deputado Valadares como representante da região, de cujo esforço, pela realização daquele e outros melhoramentos que reclama, ninguém, melhor do que ele, podia dar sincero testemunho.
A Câmara Municipal de Lima Duarte também havia se manifestado a favor da homenagem ao deputado Valadares, manifestando assim seu agradecimento pelo empenho e dedicação pela continuidade das obras da ferrovia.
Assim, a estação da localidade de Várzea do Carmo passou a ser denominada Valadares, nome este que passou a designar a povoação que se formou em redor da estação e que se desenvolveu, atualmente sede de distrito do município de Juiz de Fora, situada às margens da BR 267, entre Orvalho e Penido.
A atuação do deputado Valadares seguiu forte e incisiva, garantindo recursos que permitiram a tão sonhada chegada da primeira locomotiva à cidade de Lima Duarte, em 08 de dezembro de 1925.
A pequenina estação aí inaugurada alguns meses depois, em 1º de março de 1926, foi chamada Parada Matosinhos, sendo depois oficialmente denominada Parada de Lima Duarte e estação Diocleciano Vasconcelos.
A rua que dá acesso à Paradinha recebeu a denominação de Rua Francisco Valadares, que conserva até então.
Uma justa homenagem a quem tanto fez pela implantação da nossa ferrovia.
Francisco Valadares faleceu em Juiz de Fora em 14 de novembro de 1933.

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