AS QUATRO GERAÇÕES DE BIOTECNOLOGIAS DA REPRODUÇÃO
Ana Carla de Oliveira Baumgratz - Médica Veterinária
Tem-se falado muito na atualidade de programas para difusão em larga escala do melhoramento genético bovino. Mas quais são as biotécnicas da reprodução envolvidas e já existentes há tantas décadas? Podemos dividir as biotécnicas em quatro gerações, as quais compreendem a inseminação artificial, a transferência de embriões, a fertilização in vitro e a clonagem. Todas as biotécnicas têm como objetivo aumentar a eficiência reprodutiva e produtiva, preservar os recursos de animais com alto mérito genético, melhorar a qualidade dos produtos ou introduzir novas estratégias de produção e novos produtos animais.
PRIMEIRA GERAÇÃO: INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL (IA)
A Inseminação Artificial (IA) é o processo de fecundação natural, ou seja, ocorre no organismo da fêmea (in vivo), porém diferentemente da monta natural, os espermatozóides são coletados anteriormente, processados em laboratório para, posteriormente, serem depositados em concentrações adequadas no útero da fêmea no momento mais próximo da ovulação.
Apesar de ser uma biotécnica relativamente simples, alguns cuidados devem ser tomados, para que se tenham resultados satisfatórios. Entre eles está a capacitação de mão de obra para a correta execução do procedimento.
Devido não ser necessário grandes recursos para a realização da IA, pequenas propriedades podem se beneficiar dessa biotécnica, visto que é possível reduzir os custos com a aquisição e manutenção de touros na propriedade, melhorias no manejo sanitário, possibilidade de uma maior cartela de touros na propriedade no mesmo período, elevando o padrão genético do rebanho.
A técnica começou a ser difundida nos bovinos em meados de 1970, mas hoje sabe-se que é a mais utilizada no Brasil, gerando grandes e importantes impactos econômicos. Segundo a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) no 1° semestre de 2021, 73,4% dos municípios brasileiros passaram a utilizar a biotécnica nos rebanhos de bovinos de corte e leite, mas outras espécies destinadas à produção animal também utilizam dessa biotécnica, como suínos, caprinos, ovinos e equinos.
A IA ganhou ainda mais difusão em bovinos após as técnicas de sincronização de cio ou Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) terem ganhado mercado, aumentando o número de animais que podem ser inseminados no mesmo período e reduzindo a necessidade de observação de cio.
SEGUNDA GERAÇÃO: TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO (TE)
Essa biotécnica consiste na produção dos embriões in vivo, porém ainda em estágio inicial de desenvolvimento é coletado do aparelho reprodutor da fêmea e transferido para outra fêmea da mesma espécie, onde a gestação irá ocorrer, o que conhecemos como “barriga de aluguel” em humanos.
Em bovinos, a Transferência de Embrião (TE) é outra técnica dominada e foi muito utilizada comercialmente, pois pela manipulação hormonal da fêmea doadora de embriões é possível produzir, em um curto período de tempo, dezenas de embriões viáveis, que nascerão no mesmo ano.
Essa técnica multiplica a capacidade de uma fêmea de alto potencial genético de gerar descentes. O primeiro passo para a realização da TE é provocar, por meios farmacológicos, uma superovulação na fêmea doadora e, posteriormente, a inseminação da mesma no período ideal.
Dias após a IA, faz-se uma lavagem uterina para a recuperação dos embriões e, após a manipulação dos mesmos em laboratório, a transferência ocorre de forma imediata para fêmeas aptas, que também passaram por um protocolo farmacológico para a indução do cio. Caso o número de embriões recuperados seja maior que o número de fêmeas aptas, pode-se fazer a criopreservação dos excedentes, ficando armazenados em nitrogênio liquido (-197°C) como o sêmen utilizado na IA.
A transferência de embriões in vivo ganhou mercado entre 1980-2000, mas declinou muito seu uso após o surgimento das biotécnicas de terceira geração, uma técnica mais barata e menos invasiva ao organismo animal.
TERCEIRA GERAÇÃO: FERTILIZAÇÃO IN VITRO (FIV)
A Fertilização in vitro (FIV) consiste na promoção do encontro dos gametas femininos (oócitos) e dos espermatozóides em laboratório, ou seja, fora do ambiente uterino. O processo de produção in vitro de embriões (PIVE) consiste nas seguintes etapas: aspiração folicular para a punção dos oócitos, maturação dos oócitos, fecundação in vitro, cultivo embrionário e a transferência dos embriões produzidos para receptoras sincronizadas aptas.
Também dentro das técnicas de FIV, podemos citar a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), que oferece uma possibilidade para os casos graves de infertilidade dos machos. Essa técnica já é bastante utilizada em seres humanos, mas vem ganhando destaque há pouco tempo entre os criadores de equinos de elite, trazendo uma grande solução para que haja descendentes de grandes campeões.
A FIV vem sendo utilizada em larga escala no território nacional, para produção de embriões de mérito genético elevado, tanto para produção de bovinos de leite, quanto de bovinos de corte. Hoje se utiliza já animais que ainda não entraram em idade reprodutiva, ou seja, fêmeas extremamente jovens, mas que através dos programas de genoma, já se sabe que serão grandes destaques entre os animais da mesma raça. Com tudo isso, pode-se alavancar ainda mais os ganhos entre as gerações e ainda encurtar o tempo existente entre duas gerações de animais.
Mesmo sendo uma técnica já utilizada em larga escala, é necessário lembrar que, para executá-la, é necessária uma equipe muito bem treinada, equipamentos sofisticados e uma infraestrutura na propriedade mínima, para evitar acidentes com a equipe e com os animais, assim sendo possível também melhorar o desempenho final do trabalho.
Ainda temos a quarta geração das biotécnicas da reprodução, mas que é um assunto para a nossa próxima prosa! Até lá!