BRUCELOSE BOVINA

Ana Carla de Oliveira Baumgratz - Médica Veterinária

Doença caracterizada por gerar grandes impactos na pecuária de leite e de corte no mercado nacional e internacional, visto que acarreta perdas econômicas significativas relacionadas à redução da eficiência do rebanho, devido à queda dos índices produtivos e reprodutivos, além de levar à condenação de carcaças nos abatedouros. Além disso, a ocorrência de brucelose bovina em uma determinada propriedade ocasiona perda de credibilidade da unidade de produção, principalmente no quesito relacionado ao comércio de animais. Infelizmente muito negligenciada e subdiagnosticada, a brucelose torna-se um grande entrave para o desenvolvimento da pecuária e um problema de saúde pública em países em desenvolvimento.
A brucelose é uma doença infectocontagiosa, causada pelas bactérias do gênero Brucella ssp, que afeta diferentes espécies animais e seres humanos, ou seja, uma zoonose. No Brasil, o agente causador da brucelose bovina é a Brucella abortus. As fêmeas bovinas acometidas pela doença podem apresentar aborto no terço final da gestação e/ou nascimento de bezerros fracos, prematuros ou natimortos; além do aumento do intervalo entre partos e retenção dos anexos placentários. Nos machos infectados há o aparecimento de inflamação dos testículos (orquite) e diminuição da qualidade do sêmen. Existe um impacto muito maior quando se tem fêmeas contaminadas, do que quando se tem machos doentes.
A transmissão da doença entre animais ocorre através do contato direto das mucosas de animais sadios com as secreções de parto, placenta e/ou feto abortado, proveniente de fêmeas doentes. A disseminação da doença pelo touro na monta natural é considerada pequena, pois o trato reprodutivo da fêmea possui mecânicos fisiológicos inespecíficos, que dificultam a contaminação. Os bovinos são, por natureza, curiosos e tendem a cheirar e lamber crias e/ou fetos abortados de outras vacas, o que facilita muito o ciclo de transmissão da doença.
Com o objetivo de reduzir a incidência e a prevalência de brucelose e tuberculose no país, em 2001, foi implementado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT). O programa traz as diretrizes para o trabalho a ser realizado nas propriedades brasileiras. É obrigatória a vacinação de todas as fêmeas bovinas, de 3-8 meses de idade, com a vacina B19 e, marcá-las a ferro na face esquerda com o último número do ano correspondente da vacinação.
Atualmente existe no mercado e é permitida a utilização da vacina RB51 em fêmeas com idade superior a 8 meses, que não foram vacinadas anteriormente. Vale ressaltar que, como a RB51 não e de vacinação obrigatória, faz-se necessário o uso da B19 como eleição nas propriedades de leite e corte. Além da regulação da vacinação, o programa também padronizou as formas de diagnóstico da doença, lembrando que o diagnóstico laboratorial sempre será feito com um veterinário credenciado pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e as contraprovas são feitas em laboratórios credenciados pelo MAPA.
A brucelose é uma doença de notificação obrigatória, ou seja, todos os diagnósticos positivos devem ser informados ao IMA brevemente, para que os animais sejam sacrificados e o monitoramento da propriedade seja estabelecido. Não é permitido tratar animais com brucelose. O PNCEBT também regulamenta o passo a passo para que uma propriedade receba a certificação de livre de brucelose e tuberculose, certificação essa que é de adesão voluntária.
Na população humana, a doença produz sintomas inespecíficos e comuns a diversas doenças, como: febre, mal-estar, dores articulares, sudorese noturna, calafrios e fraqueza, o que faz com que seu diagnóstico seja muito difícil. Ela é, basicamente, em humanos, uma zoonose ocupacional, visto que, em geral, as pessoas acometidas são as que têm contato direto com os animais infectados, como tratadores, veterinários, magarefes, trabalhadores de laticínios e laboratoristas. É necessário salientar que o consumo de leite cru e/ou seus derivados (queijos, manteigas, cremes e outros), feitos com leite que não tenha sofrido tratamento térmico anteriormente, são fontes de contaminação para a população em geral; além também do consumo de carne contaminada.
É importante ressaltar que a brucelose no homem é uma doença incapacitante, além do difícil diagnóstico. Desta forma, quando o assunto é brucelose, é crucial cuidar bem do rebanho, para promover a saúde da população humana também.

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