TRIPANOSSOMOSE BOVINA: CAUSA, PREVENÇÃO E TRATAMENTO

Ana Carla de Oliveira Baumgratz - Médica Veterinária

A tripanossomose bovina é uma doença que atualmente está chamando a atenção da pecuária leiteira, pelo grande impacto que causa na produção de leite – em torno de 50% de queda – entre tantos outros impactos gerados.
A doença em questão não é endêmica no Brasil, ou seja, foi introduzida em nosso território.
Trata-se de uma doença africana, inserida através da importação de animais infectados. Os primeiros relatos da doença no país datam da década de 40, com poucos registros (bovinos de corte e búfalos) até o final da década de 1990. Foi então, nos anos 2000, a doença surge nos rebanhos leiteiros e ganha destaque. Mesmo os bovinos sendo a principal espécie a ser infectada, há relatos também em equinos, ovinos, caprinos, búfalos, lhamas, alpacas e veados.
A tripanossomose é causada por um protozoário (Trypanossom vivax), com características peculiares, o que faz com que seu crescimento, reprodução, resistência, tratamento e prevenção sejam desconhecidos pela maioria. Diferentemente da grande maioria dos agentes causadores de doenças, o Trypanossoma vivax não sobrevive por muito tempo fora do organismo animal (sangue), ou seja, não consegue se manter vivo na água, ar ou solo.
No Brasil, sabe-se que as mutucas (insetos hematófagos) são responsáveis por disseminarem a doença entre os indivíduos de um mesmo rebanho e entre animais de rebanhos vizinhos, o que traz um grau de dificuldade a mais para o controle da doença. À medida que certas práticas foram sendo introduzidas na rotina das propriedades leiteiras, o comportamento da doença começou a sofrer mudanças, levando ao surgimento de rebanhos infectados onde não se há relatos da presença dos insetos hematófagos. Mesmo com poucas comprovações e muita pesquisa ainda sendo realizada, sabe-se hoje que a venda de animais assintomáticos e o uso de agulhas compartilhadas são os principais gatilhos para o surgimento de novos rebanhos contaminados em um curto período de tempo.
Como ocorre a transmissão da tripanossomose? É bem simples! Basta usar uma agulha em um animal contaminado e fazer sua reutilização em um animal sadio. É necessário apenas uma gota de sangue fresco contaminado para que a doença se perpetue. A reutilização de agulhas é muito comum na prática diária das propriedades brasileiras, como nos manejos de vacinação e na aplicação de ocitocina durante a ordenha. Mas vale ressaltar que as moscas hematófagas continuam tendo seu destaque como vetores.
Poucos dias após o protozoário ter infectado o organismo, o animal apresenta os primeiros sinais da doença: febre e anemia, o que reduz a capacidade de se locomover e de se alimentar adequadamente. Ao decorrer dos dias, novos sintomas vão surgindo, como: desidratação, fraqueza, prostração, perda de peso, aborto e queda na produção de leite, por exemplo. Culminando com a morte do animal.
O que causa grande entrave no diagnóstico da doença é a semelhança dos seus sintomas com as mais diversas enfermidades (verminoses, raiva, tuberculose, tristeza parasitária, intoxicação por plantas, deficiência nutricional e outras). Assim, o diagnóstico mal feito leva ao tratamento incorreto e, por consequência, o surgimento de resistência aos poucos medicamentos eficazes que temos no mercado brasileiro hoje. O diagnóstico deve ser feito através de exame de sangue.
No mercado brasileiro há apenas dois tipos de produtos com efeito tripanocida e cada um oferece uma contribuição diferente para o combate à doença, tendo efeito curativo ou preventivo.
Muito pouco se sabe sobre a tripanossomose até hoje, o que dificulta muito o controle da doença. Com as inúmeras vendas de animais e liquidações de rebanhos atualmente, encontramos mais um entrave a ser superado. O ideal é que um médico veterinário especialista seja chamado em caso de suspeita da doença na propriedade, para que a melhor estratégia seja tomada para a SUA PROPRIEDADE, visto que, cada propriedade e cada rebanho são como um indivíduo, únicos!

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