SAINT HILAIRE EM IBITIPOCA

MARCO ANTÔNIO SILVA

Em 15 de fevereiro desse ano, comemora-se os 200 anos da visita do botânico francês Auguste de Saint Hilaire, à serra de Ibitipoca. Por meio de seu diário, transcrevemos, resumidamente, seus passos por nossa terra.
Partindo do Rio de Janeiro, em 29 de janeiro de 1822, acompanhado de um novo arrieiro, seu amigo Laruotte e dois indios guaranis montados, Saint Hilaire tomou rumo diverso do que adotou em sua primeira viagem, buscando os caminhos que o levassem à povoação de Rio Preto, onde chega, oito dias depois.
06 de fevereiro de 1822:
Após atravessar o Rio Preto, chega à povoação do Presídio do Rio Preto. Nessa época, o território de Rio Preto pertencia ao Distrito e Freguesia de Conceição de Ibitipoca, integrando o município de Barbacena.
Assinalou que a povoação “…era dotada de apenas uma rua, larga e paralela ao rio (Preto), casas todas térreas, pequenas e com jardinzinho plantado de bananeiras…”
Cumprindo as determinações legais, apresentou-se no Registro que controlava a entrada e saída da Província de Minas Gerais e apresentou as credenciais que havia obtido de Dom Pedro I e do vice Presidente da Junta das Minas, sendo logo acolhido na casa do Comandante do Registro, onde pernoitou.
07 de fevereiro de 1822
Seguindo viagem, serra acima, pela Estrada Geral do Rio Preto, atingiu o rancho de São Gabriel, três léguas adiante de Rio Preto, no dia 7 de fevereiro de 1822. Aí permaneceu colhendo amostras de plantas até o dia 10 de fevereiro.
11 de fevereiro de 1822
Percorre mais um trecho do caminho, atingindo as cercanias do local hoje conhecido como Encruzilhada, onde a Estrada Geral do Rio Preto se bifurcava em dois caminhos: à esquerda a Estrada do Comércio, que seguia via Taboão a Bom Jardim, Turvo (Andrelândia), Madre de Deus e Piedade do Rio Grande, seguindo por São Miguel do Cajuru até São João Del Rei, e à direita a Estrada Geral da Polícia da Corte, que seguia pela Serra Negra, em direção a Barbacena.
Saint Hilaire toma, então, a Estrada da Polícia, dobrando a Serra Negra e descendo pelo lado de Olaria, atingindo a Fazenda São João ainda em 11 de fevereiro, três léguas após São Gabriel.
12 de fevereiro 1822:
De São João, a comitiva vai ao Rancho de Antonio Vieira, uma légua e meia adiante, encontrando-se com outros viajantes que, da vila de Oliveira, seguiam ao Rio de Janeiro, aí pernoitando.
13 de fevereiro de 1822
Seguindo viagem, à um quarto de légua de Antonio Vieira, atravessam, por uma ponte de madeira, “…um pequeno rio, chamado Rio do Peixe…”, próximo ao Pão de Angu, pernoitando no Rancho de Antonio Pereira.
14 de fevereiro:
Seguindo de Antonio Pereira, por Várzea do Brumado e Rancharia, atinge a região dos campos. Deslumbrado, anota em seu dário: “…À vista dos belos campos que se apresentaram hoje aos meus olhos, não pude deixar de sentir verdadeiro aperto de coração, pensando que logo os deixarei para sempre…”.
Entrando na Vila de Ibitipoca, não pode deixar de externar sua admiração, pois “… embora cabeça de Distrito que se estende até Rio Preto, consta esta vila de algumas casinholas apenas, e do pior aspecto…” Ali, perguntando sobre que fazenda se situava mais perto da “serra”, é informado de a fazenda do Tanque é a mais próxima e para lá se dirige. Na Fazenda do Tanque, é acolhido e pernoita.
15 de fevereiro
Dirige-se à Serra de Ibitipoca, guiado por duas crianças da fazenda do Tanque. Botânico que era, foca sua atenção nas plantas, Fora estas, descreve um pequeno rio, que diz se chamar Rio do Sal (na verdade Salto), e visita, num dos rochedos, o Santo Antonio de Pedra, uma formação de líquens que assumia a aparência de um monge, vestido com hábito e livro na mão, ganhando o nome do santo padroeiro de Lisboa.
Seguindo rio acima, encontra um rancho de taipa, coberto de sapé, com portas feitas com couro de onças abatidas na serra, habitado por uma família, egressa da região de Rio Preto. Com eles, o sábio francês comeu queijo, farinha e bananas.
Com o chefe da família, estendeu longa conversação, contando-lhe este que para ali se estabelecer e poder criar animais, teve que matar dez onças, garantindo assim segurança para o gado nos pastos.
Convidado a servir-lhe de guia ao alto da serra, o bom homem logo se prontificou a fazê-lo, saindo todos a cavalo, logo após o almoço, em direção ao Pico do Pião.
Ali, nos dias claros, anotou em seu diário, “avista-se até as montanhas dos arredores do Rio de Janeiro”. Descrevendo o abismo formado pelo paredão da serra para as bandas de Mogol e Bias Fortes, não deixou de exprimir um certo terror, provocado pela imensa profundidade do vale, “de espessas florestas em sombrios vales”.
Impressionaram-lhe os pastos da serra, por sua qualidade e viço, capazes de alimentar prodigiosa quantidade de animais… Por um tempo perambulou ainda pela parte alta da serra, a colher amostras de plantas, receoso de causar enfado ao seu guia, parando a cada nova espécie que avistava. Como já se fazia tarde, retornaram todos ao casebre do Monjolinho, onde a anfitriã já os aguardava com um prato de palmitos e uma cuia de excelente leite, que comeram rápido, seguindo de novo ao Tanque, onde pernoitaram.
16 de fevereiro
Agradecendo a boa hospedagem aos hospedeiros, pôe-se a caminho seguindo em direção à Ibitipoca. Dessa vez, com mais tempo, observa e descreve melhor a impressão que a vila causa-lhe, anotando em seu diário:
“Atravessamos primeiro a vila de Ibitipoca, que conhecia mal, e julgava ainda mais insignificante do que realmente é. Fica, como já expliquei, situada numa colina e compoêm-se de pequena igreja e meia dúzia de casas que a rodeiam, cuja maioria está abandonada, além de algumas outras, igualmente miseráveis, construídas na encosta de outra colina. Não espanta pois, que inultilmente haja eu procurado, ontem, nessa pobre aldeia, os gêneros mais necessários à vida.”
De Ibitipoca, segue em direção à fazenda da Ponte Alta, onde pernoita. Apesar da ausência dos donos, seus escravos consentem em que ele e sua comitiva ali pernoitem. Em seu diário, observa a simplicidade do interior da fazenda e a ocorrência de grande quantidade de araucárias.
17 de fevereiro de 1822
Partindo da fazenda Ponte Alta, voltando a lugares por que passou na viagem de 1817, Saint Hilaire chega à Santa Rita de Ibitipoca. A povoação causa-lhe melhor impressão, como se vê pelo que anotou em seu diário:
“Esta aldeia situada em agradável posição, à encosta de uma colina, não é senão, uma sucursal de Ibitipoca, embora importante. Compõem-se de uma única rua, mas ali se vêem algumas bonitas lojas”.
De Santa Rita o francês e sua pequena comitiva seguiram para Barbacena, de onde a viagem se prolongou até São Paulo.
Para visualizar o conteúdo completo da viagem acesse: http://brasilianadigital.com.br/obras/segunda-viagem-do-rio-de-janeiro-a-minas-gerais-e-a-sao-paulo-1822/

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