A POLÊMICA ENVOLVENDO O BRADESCO E O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
Ana Carla de Oliveira Baumgratz - Médica Veterinária
Em meados de novembro/2021, o Bradesco adicionou uma nova funcionalidade ao seu aplicativo, onde os clientes acessam seu saldo e fazem transações. Essa nova funcionalidade permite que pessoas físicas façam uma estimativa da emissão de gás carbônico equivalente anual, na busca pela estimulação da compensação voluntária, contribuindo para um projeto ambiental selecionado. “Nosso objetivo é levar o debate sobre o aquecimento global para as casas das pessoas, de forma que elas encontrem maneiras de mudar hábitos e, assim, contribuir para o compromisso global de reduzir emissões”, diz Marcelo Pasquini, head de sustentabilidade do Bradesco.
Ao lançar essa nova funcionalidade, o banco reforça seu compromisso com a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. A empresa está comprometida a atingir a meta de carbono neutro até 2050, além de fomentar a preservação ambiental e o desenvolvimento social nos biomas brasileiros. O que acontece à partir desse momento é que traz desencontro entre o Bradesco e o agronegócio brasileiro. Para trazer repercussão ao mais novo lançamento do aplicativo, foi veiculado no Instagram um vídeo onde influenciadoras digitais dão dicas de como reduzir a emissão de carbono diária. As dicas são: realizar as segundas feiras sem carne, compostar o lixo orgânico e utilizar o app do banco.
A sugestão da segunda feira sem carne fez com que os pecuaristas brasileiros dessem o grito, gerando um grande movimento nacional contra o Bradesco. O movimento da segunda sem carne não foi algo criado pelas influenciadoras, visto que é um movimento criado no exterior, que vem ganhando força no território brasileiro, cada dia com mais adeptos. A questão não é estimular a redução do consumo de carne, mas sim associar o agronegócio como vilão dos problemas ambientais e não pesquisar a fundo os porquês do surgimento desse movimento que, a cada dia, cresce mais.
Rapidamente a empresa sentiu o impacto negativo da “gafe de marketing” cometida após a veiculação do vídeo, perdendo grandes contas de agropecuaristas brasileiros, por todo o território, e sofrendo grande depreciação de suas ações no mercado financeiro. No final de dezembro, o vídeo foi retirado de circulação e uma carta aberta foi emitida pela empresa, “retirando” por completo sua responsabilidade, afirmando que a opinião das influenciadoras sobre o consumo de carne é “descabida”, mas que infelizmente tal opinião foi vinculada à empresa, sendo que o banco acredita e promove direta e indiretamente a pecuária brasileira, por conseguinte, o consumo de carne bovina.
A carta aberta não surtiu o efeito esperado, não conseguindo acalmar a classe em polvorosa. Em resposta, os pecuaristas de inúmeras grandes regiões produtoras de carne realizaram a “segunda com carne”, em 03/01/22. O protesto contou com churrasco em frente à agência em Mato Grosso, onde foram distribuídos cerca de 1,5 mil espetinhos, e no Pará foram distribuídos 5,5 toneladas de carne para famílias de baixa renda da região.
O objetivo do protesto foi demonstrar o equívoco que há em promover a redução do consumo de carne como salvaguarda ao planeta, respaldados por diversas pesquisas e valendo-se da importância do consumo de carne em todas as faixas etárias da vida dos seres humanos, mas sempre salientando o respeito pela opção da ingestão ou não de carne pelos indivíduos.
Toda a polêmica dos últimos dias traz à tona novamente o grande embate existente entre o agronegócio e os ambientalistas. O agronegócio vem sendo atacado de todos os lados, fortemente, nos últimos anos, como o grande vilão dos problemas ambientais mundiais.
Mas será que somos tão vilões assim? Onde ficam os créditos para as técnicas já existentes e as em pesquisa em agricultura sustentável? Onde ficam os créditos para quem mantêm as maiores áreas de preservação do Brasil? Onde ficam os créditos para quem alimenta a população, seja você onívoro ou vegetariano? Nem só de “vilania” vive o agronegócio! Como diria Camila Telles, comunicadora e defensora incansável do agro: “se a segunda sem carne vai de fato salvar o nosso planeta, a gente tem que ter a terça sem carro, a quarta sem ar condicionado, a quinta sem banho, a sexta sem lixo e por aí vai… Já pensaram nisso?”.