LIMA DUARTE MORREU EM DEZEMBRO

MARCO ANTÔNIO SILVA

Aos 3 de dezembro de 1896, aos 70 anos, falecia no Rio de Janeiro, José Rodrigues de Lima Duarte. Em 20 de julho de 1889, meses antes da proclamação da República, ocorrida sete anos antes de seu falecimento, havia sido agraciado por Sua Majestade, Dom Pedro II, com o título de Visconde, com grandeza, passando a ser titulado com a honraria de “Visconde de Lima Duarte”.
Com o advento da República, esteve durante algum tempo absolutamente retirado de cargos públicos. Em 1892 recebeu do governo de Minas Gerais a nomeação para Superintendente Geral do Serviço de Imigração, cargo que exerceu até falecer.
A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ao terem notícia do seu passamento, por voto unânime, fizeram consignar nas atas respectivas, o profundo pesar com que receberam aquela triste notícia, prestando tributo à memória do distinto mineiro, tão respeitável pela honradez de caráter, como estimado pelos dotes do seu bondoso coração.
Sobre sua morte, assim se manifestou um colunista, no Minas Gerais, de 4 de dezembro de 1896:
“No cemitério de São Francisco de Paula no Catumbi, Rio de Janeiro repousam os restos mortais do Conselheiro Lima Duarte.
Natural do estado de Minas Gerais, o Conselheiro Lima Duarte conseguiu pela sua qualidade e pelo desprendimento de bens materiais impôr-se à veneração de seus conterrâneos.
Médico, o doutor Lima Duarte levava tanto aos ricos como aos desafortunados a sua ciência, sem que de leve deixasse perceber o mais longe interesse. Daí o Doutor José Rodrigues ser na realidade, um dos mais prestigiosos chefes do partido Liberal, desde que se dedicou à política.
Deputado, ministro da Marinha, Senador, Conselheiro de Estado de Sua Majestade, essa influência nunca o empalideceu, por que não vinha de paixões, mas do reconhecimento baseado em interesses na mais pura amizade popular.
Na Câmara dos Deputados foi elevado à suprema posição de Presidente, tanto a se recomendar pela sua circunspecção, como por sua imparcialidade, pelo seu bom senso. Sendo adversário, nunca recorreu à violência; ao contrário, sabia honrar o seu adversário, reconhecendo nele os méritos. Tendo o Visconde do Rio Branco, conservador, seu principal oponente, cometido o crime de batalhar em prol da aprovação da Lei do Ventre Livre, recebeu o ódio dos conservadores negreiros que se disciplinaram em ataques ferozes e desumanos ao Visconde do Rio Branco. Lima Duarte, sendo liberal, gelou as veias dos conservadores, ao declarar-se solidário com ele.
Era assim que o ilustre chefe Liberal fazia política.
Sofrendo forte oposição quando ocupou a chefia do Ministério da Marinha, o Conselheiro Lima Duarte a venceu com serenidade, ao final ninguém ousando duvidar de tão puro caráter.
Lima Duarte comprometeu a sua fortuna em confiança a empregados, que abusaram dos seus cargos, reduzindo-o à pobreza. Apesar disso, não tinha uma queixa, quanto aos que abusaram de sua boa-fé. A República, deixou-o em situação financeira precária, e já velho, saiu a buscar trabalho no Rio de Janeiro. Como médico já não podia fazer a clínica penosa em seu estado, pois desde moço nunca teve o hábito de cobrar honorários pelo exercício de sua Sagrada profissão de médico.
Abandonou definitivamente a política, escolhendo não se opor de forma altiva à República, mantendo-se mais calmamente fiel ao seu passado monarquista.
Discursando emocionado em suas exéquias, o Visconde de Ibituruna, bem resumiu em poucas palavras o caráter do falecido:
“Galgado às mais altas posições sociais, Lima Duarte nunca deixou de ser o que sempre fora e o que é mais assombroso, também não conseguiram fazer com que mudasse”
Em tempos de política como simples exercício de paixão e de favorecimentos a aliados, que sua memória se mantenha viva entre nós, mantendo acesa a luz dos valores que sempre vivenciou: honradez, honestidade, caráter e zelo com a política.

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