CARNE: DA EVOLUÇÃO À ECONOMIA

Ana Carla de Oliveira Baumgratz - Médica Veterinária

Se você está lendo esse texto, agradeça aos nossos ancestrais hominídeos que aprenderam como fazer duas coisas: comer carne e cozinhar seus alimentos.
Assim como o leite, a carne também tem papel de destaque no desenvolvimento dos nossos antepassados. O início do consumo de carne é datado há pouco mais de 2,5 milhões de anos, mas apenas há 500 mil anos passou a ser consumida cozida, juntamente com outros alimentos diversos.
Hoje sabemos que dietas ricas em proteína, ou seja, nas quais a carne se faz presente, são de extrema importância para o desenvolvimento cerebral das crianças, mas na ancestralidade não foi diferente. A dieta rica em proteínas foi decisiva para o desenvolvimento do cérebro humano, além de induzir à evolução de características modernas, como dentes e boca menores.
As dietas anteriores, que eram ricas em vegetais e frutas, não possuíam um alto valor calórico.Além do cenário não ser favorável à alimentação rápida, visto que exigia muito esforço dos indivíduos para a mastigação, principalmente, dos tubérculos, por serem mais duros que os demais alimentos. Junto ao consumo de carne mais frequente, os hominídeos começaram a desenvolver ferramentas para favorecer a caça e o próprio consumo da carne, como lanças e martelos de pedra para auxiliar no corte e trituração do alimento.
Com a mudança no cenário de obtenção do alimento e da própria alimentação, nossos ancestrais passaram a ter mais tempo para socializar, o que contribuiu para o desenvolvimento da fala e dos hábitos sociais.
A carne pode ser considerada como um alimento nobre para o homem, pois serve para a produção de energia, de novos tecidos orgânicos e para a regulação dos processos fisiológicos, respectivamente, à partir de gorduras, proteínas e vitaminas constituintes dos cortes cárneos. O grande mérito nutricional da carne é a quantidade e a qualidade dos aminoácidos constituintes dos músculos, dos ácidos graxos essenciais, das vitaminas do complexo B e tendo também importância o seu teor de ferro, referindo-se, principalmente, à carne bovina.
O Brasil é um dos mais importantes produtores de carne bovina no mundo, resultado de décadas de investimento em tecnologia, que levou não só à produtividade, como também à qualidade do produto brasileiro, fazendo com que se tornasse competitivo e chegasse ao mercado interno de mais de 150 países.
O rebanho brasileiro é considerado o maior rebanho do mundo, representando cerca de 14,3% do rebanho mundial. Porém, apesar de ser o maior produtor de bovinos do mundo, com a adição da produção de aves e suínos, o Brasil passa a ocupar a terceira posição mundial no mercado internacional, ficando atrás da China e dos Estados Unidos. Já em volume de carnes exportadas, no ano passado passamos a ocupar o segundo lugar mundial, com aproximadamente 13,4% do total mundial.
Quando observamos apenas as exportações de carne bovina, em 2020, passamos a ser o maior exportador mundial. Dados divulgados pela Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, indicam que o consumo de carne vermelha no Brasil teve a maior queda em 25 anos, devido à alta dos preços em 2021.Isso tem correlação direta com o aumento da produção dos frigoríficos destinados à exportação, em um cenário com cotações internacionais em altos patamares, encarece também o mercado doméstico.
O cenário de crise do período de 2014 a 2016, sua lenta recuperação até 2019 e o início da pandemia do COVID-19 em meados de 2020, vem derrubando gradativamente o consumo per capita da carne bovina desde então. As restrições do mercado chinês para a importação da carne bovina brasileira iniciou-se com o surgimento dos dois casos suspeitos de “vaca louca”, com a justificativa da seguridade alimentar, mas sabe-se que as questões envolvendo os altos valores do produto, a tentativa dos chineses em estimular o consumo de carne suína e as divergências com o governos brasileiro, também são pontos a serem considerados de forma contundente.
A China é responsável por 56% das exportações de carne bovina brasileira e estima-se que o prejuízo econômico ultrapasse R$ 10 milhões até o final de 2021. Já os Estados Unidos triplicaram as importações de carne vermelha no período de janeiro a agosto de 2021, quando comparadas ao mesmo período de 2020. Em 2013 o consumo de carne pelos brasileiros foi de 96,7 Kg/habitante/ano, auge histórico iniciado a partir de 1996, mas estima-se que em 2021 haverá queda de 5,3% em relação ao pico de ingestão.
Mesmo com a queda do consumo de carne bovina, os brasileiros continuam mantendo os patamares de ingestão de carne de outros países, inclusive dos desenvolvidos, visto que o consumo de carne de frango e de suínos aumentou no mesmo período. A carne de frango representará, em 2021, mais de 51% da carne consumida internamente no Brasil, seguida pela bovina (35,1%) e pela suína (14,6%). O aumento do consumo de carne de frango e suína se deve à redução do poder aquisitivo brasileiro, que passaram a procurar alternativas mais baratas para que a ingestão de proteína animal continuasse em suas casas. Juntamente com o aumento do consumo dessas carnes, vemos o aumento também no consumo per capita de ovos.
O consumo de carne é de extrema importância para o organismo dos seres humanos em desenvolvimento e adultos, visto que traz nutrientes essenciais às funções orgânicas e que não são encontradas em outros alimentos ou em baixa biodisponibilidade. Além da sua importância alimentar, é de extrema necessidade reafirmar seu impacto econômico para o país.

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