FEBRE AFTOSA
Ana Carla de Oliveira Baumgratz - Médica Veterinária
A febre aftosa é causada por um vírus altamente contagioso, com impacto econômico significativo. Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), a gravidade da enfermidade está relacionada com a facilidade que o vírus pode se disseminar, e não com sua letalidade, visto que a doença é raramente fatal em animais adultos, mas podendo causar a morte de animais jovens.
A doença não apresenta nenhum risco à saúde pública, visto que a febre aftosa não é uma zoonose. A doença acomete os animais biungulados, ou seja, os animais que apresentam cascos fendidos. Os animais domésticos que podem apresentar a doença são os bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos e suínos. Já os animais silvestres que podem ser acometidos são as alpacas, bisões, búfalos americanos, camelos, capivaras, cervídeos, elefantes, girafas, javalis e lhamas. Entre os animais domésticos, bovinos e suínos são os mais acometidos e os que apresentam os sintomas mais severos da doença.
O organismo dos animais silvestres pode se comportar de formas distintas frente à doença, apresentando sintomas severos, leves ou mesmo a doença subclínica, ou seja, sem apresentar nenhum sintoma. A gravidade dos sinais clínicos depende da cepa envolvida, do grau de exposição, da idade e da imunidade dos animais infectados. A morbidade da doença é altíssima, podendo chegar a 100%.
Os sinais clínicos clássicos são vesículas ou suas formas de evolução na boca, cavidade oral, focinho, língua, cascos e tetos. Outros sinais frequentes são claudicação e malformação dos cascos, descarga nasal, enfraquecimento, febre, perda de apetite e de peso, prostração e sialorreia. Animais jovens podem apresentar a doença aguda e virem a óbito devido à miocardite causada pela infecção do músculo cardíaco.
A maioria dos animais adultos se recupera dentro de 2-3 semanas, porém as infecções secundárias podem retardar a recuperação. O vírus é encontrado em todas as excreções e secreções de animais infectados. Pode ser transmitido por via direta (aerossóis, contato entre animais, suas excreções e secreções) e por via indireta (água, alimentos, fômites, trânsito de pessoas e veículos), entrando no organismo saudável por inalação, ingestão ou abrasão de pele e/ou mucosas. Os bovinos, em geral, são os primeiros a manifestarem os sinais clínicos, e os suínos são considerados hospedeiros amplificadores por eliminarem grandes quantidades de vírus quando infectados.
A febre aftosa é uma doença de notificação obrigatória conforme o Código Sanitário para Animais Terrestres da OIE e a instrução normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Por esse motivo, qualquer sinal clínico de doença vesicular deve ser imediatamente notificado ao Serviço Veterinário Oficial do estado. Quando há surgimento de focos de febre aftosa dentro do território brasileiro, algumas medidas serão aplicadas pelos órgãos competentes, sendo elas: eliminação de casos e contactantes da área em questão, destruição das carcaças, desinfecção, utilização de animais sentinelas, por um período mínimo de 28 dias, comprovação de ausência de circulação viral, vigilância dentro da zona de contenção e proteção e zonificação.
A vacinação preventiva contra febre aftosa para bovinos e bubalinos é obrigatória somente em zonas livres de febre aftosa com vacinação. A critério do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a vacinação de emergência poderá ser utilizada como parte das estratégias para contenção de focos de febre aftosa no país. O Brasil, sob a coordenação do MAPA, e com a participação dos serviços veterinários estaduais e do setor agroprodutivo, erradicou a febre aftosa em todo o país, alcançando o reconhecimento internacional da OIE em maio de 2018.
O Programa Nacional de Vigilância para Febre Aftosa (PNEFA) tem como estratégia principal a manutenção de zonas livres da doença, de acordo com as diretrizes estabelecidas pela OIE e, seu Plano Estratégico tem como objetivo principal “criar e manter condições sustentáveis para garantir o status de país livre da febre aftosa e ampliar as zonas livres de febre aftosa sem vacinação, protegendo o patrimônio pecuário nacional e gerando o máximo de benefícios aos atores envolvidos e à sociedade brasileira”. Foi delineado para ser executado em um período de 10 anos, iniciando em 2017 e encerrando em 2026.
Convergindo com os esforços para a erradicação da doença na América do Sul, um dos objetivos do PNEFA é a substituição gradual da vacinação contra a febre aftosa, em todo o território brasileiro, que implica na adoção de diversas ações a serem desenvolvidas em âmbito municipal, estadual e nacional, com o envolvimento do Serviço Veterinário Oficial, setor privado, produtores rurais e agentes políticos.
Faça a vacinação de seu rebanho de forma correta e nos períodos previstos, conforme calendário nacional de vacinação. E não se esqueça de preencher a declaração de vacinação e entregá-la, no prazo estabelecido, ao Serviço Veterinário Oficial do estado, junto com a nota fiscal de compra das vacinas.