POETAS LIMA DUARTINOS
Marcos Antônio Silva
Lima Duarte também tem seus poetas!
Seres de alma elevada, que conseguem traduzir em palavras os amores a as dores do mundo, tecer versos sobre o palácio ou um barraco, a flor ou o estrume, a treva, ou o lume… Avivam a chama do desejo, abrandado no sentimento puro. E cantam sem pejo, da traição, o golpe duro…
Trazem a lembrança dos dias de sol, a força das tempestade sombria, das luzes em arrebol ou da manhã fria…
Em seu tempo, o maior poeta da terrinha foi Pedro Mendes da Paz, nascido em Sapucaia-RJ em 21/11/1878, que aqui chegou, com 22 anos, recém formado em Barbacena, no ano de 1900. Seus versos ilustraram jornais, sua oratória ecoou em dias solenes ou tristes. Orador oficial da cidade, era convidado a saudar visitantes e autoridades, o que fazia com maestria, seja em prosa ou verso.
Muitos versos compôs, a maioria inéditos, escondidos em cadernos, que pude ainda ver, com folhas amarelecidas pelo tempo. Muitos limaduartinos ganharam de presente poesias suas, sonetos guardados ainda hoje com carinho. Faleceu em Juiz de Fora em 19/07/1940, sendo sepultado em Lima Duarte.
Segue um de seus inspirados sonetos:
O pior dos males
Que há pior que o temporal infando,
Que tudo estrue, derriba, arrasa, leva,
Pior que os vagalhões do mar na treva,
De encontro à rocha, as naus, esmigalhando?
Que há pior que o incêndio devastando,
Numa fúria infernal, medonha, seva,
Tudo o que encontra, num furor nefando,
Da choupana ao palácio que se eleva?
Que existe mais horrendo que a peste,
Do que a guerra feroz que ruge, investe,
Trazendo a fome, o luto, a mortandade?
Pior que o incêndio, a fome, a peste a guerra,
Pior que o inferno existe sobre a terra,
Pior que tudo – a torva falsidade.
Outro que lhe faz par é Oranice Franco, nascido em Lima Duarte aos 02 de novembro de 1919 e falecido em São João Del Rei em 02 de novembro de 1999. Oranice foi mais conhecido como jornalista e locutor da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, onde às terças e quintas, às 17h30 minutos, apresentava o prestigiado programa “Histórias do Tio Janjão”, dedicado às crianças, além da famosa e esperada “Crônica da Cidade”. Lançou vários livros de poesia, todos inspirados em Minas Gerais, como o Minha Rua de Minas, Mares de Minas e O Poço da Memória, dentre outros. Produziu ainda contos, crônicas e radionovelas.
De Oranice, trazemos:
Canção do Voltará
Esta flor que lhe dou
é do país de Minas Gerais.
Ponha-a junto ao peito
-ela tem muito de céu.
Este amor que lhe dou
é um amor de mil amores.
Ponha-o junto ao seio
-ele tem muito de flor.
Quando vier, estarei à espera.
Quando chegar, terei ido embora.
O apelo das serras é um imã
-pois tem muito de céu.
O encontro de hoje fica para amanhã
ou para depois, depois, depois.
O dia está lindo demais para encontros,
Vou passá-lo comigo mesmo.
Voltarei, um dia,
Com mais flores, o mesmo amor,
e virei, transfigurado, para ficar.
Teremos, então, muita coisa de céu.