EPIDEMIAS EM LIMA DUARTE
Marcos Antônio Silva
Desde tempos imemoriais, a humanidade convive com os surtos e epidemias, comumente designadas como pestes.
Muitas dessas doenças foram, ao longo do tempo, erradicadas, seja pela melhoria das condições de higiene e saneamento, quanto pelo esforço da medicina.
Lima Duarte também registrou, ao longo de sua existência diversas epidemias, a maior parte delas relativas à Gripe Espanhola em 1918, ou à Varíola, entre nós conhecida como “Bexiga”.
Sobre a varíola, o jornal O Pharol de Juiz de Fora traz algumas informações a respeito de nossa cidade em 1904.
Nesse ano, começaram a surgir na cidade de Juiz de Fora numerosos casos da doença. A população, alarmada, solicitou providências às autoridades. Era Agente Executivo Municipal e Presidente da Câmara Municipal o Dr, Manoel Brito de Vieira Pinto, médico de profissão, que nomeou o farmacêutico Álvaro Rangel, Delegado de Higiene, dando-lhe autoridade para tomar as medidas que fossem necessárias para que a doença não atingisse a cidade.
Este, tão logo pôde, decretou o fechamento das fronteiras e o estabelecimento de quarentena. As medidas, editadas em 2 de setembro de 1904, foram divulgadas pelo jornal “O Pharol:
O farmacêutico Álvaro Rangel, delegado de Higiene Municipal, em comissão.
De ordem do exmo. sr. Dr, Agente Executivo Municipal faço público que, enquanto durar a epidemia de varíola em diversos pontos do município de Juiz de Fora, fica proibida a entrada neste município de pessoas, tropas e veículos vindos daquela, sem terem estado de observação durante 5 dias nos postos de passagem, onde foram estabelecidos cordões sanitários.
Lima Duarte, 2 de setembro de 1904.
O Delegado de Higiene municipal – Farmacêutico Álvaro Rangel
O rigor e determinação do Delegado de Higiene não perdoou nem o Juiz de Direito da Comarca, Dr. Canuto Gonçalves Pereira de Sá Peixoto, conforme nota publicada no mesmo “O Pharol”, sete dias após a publicação das medidas:
O cordão sanitário de Lima Duarte está sendo posto em prática com extraordinária energia. A primeira vitima foi o juiz de direito da Comarca, o qual, tendo ido desta cidade, foi obrigado a purgar, com sua família, cinco dias de quarentena no luxuoso lazareto instalado pelo Agente Executivo, especialmente para aquela autoridade.
Como o lazareto se acha situado fora da Comarca, não pôde o magistrado prisioneiro despachar o expediente de sua vara, nem conceder a si mesmo uma ordem de auto habbeas corpus.
A higiene pública de Lima Duarte prefere ficar sem Justiça a correr o risco de ter justiça… com bexigas!
Apesar do esforço das autoridades, tomando todas as medidas que julgaram cabíveis, a varíola seguiu fazendo muitas vítimas em todo o município. As vítimas eram sepultadas fora das povoações, em cemitérios que ficaram conhecidos como “Cemitérios dos Bexiguentos”, alguns deles ainda hoje existentes, testemunhando o sofrimento de tantos seres humanos.
A varíola voltaria com força em outras ocasiões, deixando marcas profundas em muitas gerações.
Em 14 de setembro de 1919, A Directoria de Higiene do Estado recebeu telegrama de Lima Duarte, pedindo urgentemente vacinas antivariólicas. Foram enviados 150 tubos. Com o avanço da doença, o Dr. Luiz de Mello Brandão, inspetor de Higiene do Estado de Minas Gerais, recebeu ordens do Governo do Estado para proceder vacinação em todos os habitantes das circunvizinhanças de Lima Duarte.
Documentar as epidemias, resgatar as estórias de dor e sofrimento de tantos lima duartinos e preservar os Cemitérios dos Bexiguentos é manter viva a nossa História.