RAIVA HUMANA E ANIMAL

Diferentemente do que muitos imaginam, a Medicina Veterinária não zela apenas pela vida e saúde dos animais, mas também atua diretamente pela saúde dos seres humanos. Entre as inúmeras facetas do médico veterinário, vale destacar a sua importância no controle e diagnóstico de zoonoses.
A zoonose é classificada como toda e qualquer doença que pode ser transmitida naturalmente de animais para humanos e vice-versa. As transmissões ocorrem principalmente através do contato com secreções (saliva, sangue, urina, fezes), arranhaduras e/ou mordeduras, picada de vetores (mosquitos, pulgas, carrapatos), ingestão de alimentos contaminados, entre outras. Os agentes responsáveis por causar tais doenças podem ser micro-organismos diversos, tais como, vírus, bactérias, fungos, protozoários e outros. De acordo com a definição de zoonose proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS), existem mais de 200 doenças que podem ser caracterizadas como zoonoses. A brucelose, leptospirose, raiva, teníase, criptococose, esporotricose, febre amarela, febre maculosa, toxoplasmose, doença de Lyme são exemplos de zoonoses.
Anualmente, a raiva mata mais de 55.000 pessoas em todo o mundo, com destaque para países da América Latina, África e Ásia. No Brasil, entre os anos de 2010 a 2020, foram registrados 38 casos de raiva humana, sendo as fontes de infecção variadas (cães, morcegos, primatas não humanos e felinos). A raiva é uma encefalite viral aguda, endêmica em diversos países, com impactos na área urbana e rural. No ambiente urbano é mantida principalmente pelos cães e transmitida entre os mesmos, caracterizando os maiores transmissores de raiva aos humanos.
Devido à grande proximidade entre o homem e seus animais de estimação, esta forma de transmissão é grave, gerando um grande problema de saúde pública. Na área rural, os morcegos hematófagos são os principais reservatórios do vírus, podendo contaminar diferentes espécies de animais de produção como, por exemplo, bovinos, equinos e caprinos. O número de casos entre os herbívoros diagnosticados em laboratório tem crescido nos últimos anos, em algumas regiões, devido ao aumento da população de morcegos hematófagos e a dificuldade em se conseguir fazer o controle populacional dos mesmos.
Vale ressaltar que, em contrapartida, os produtores estão mais conscientes da necessidade de um diagnóstico preciso para um melhor controle das medidas sanitárias e profiláticas. A doença é transmitida, principalmente, pela saliva de indivíduos contaminados, mas há relatos de contaminação em humanos e animais dentro de cavernas ocupadas por grandes populações de morcegos por via aerógena, ou seja, através do ar.
A doença apresenta uma taxa de letalidade de aproximadamente 100%, ou seja, grande parte dos indivíduos infectados, humanos ou animais, vêm a óbito após contraírem a doença. O período de incubação é muito variável entre as espécies, desde dias até anos. Sabe-se que cães e gatos infectados podem eliminar o vírus pela saliva dias antes do início do aparecimento dos sintomas da doença, o que reforça a necessidade de observação dos animais até 10 dias após o ataque, para avaliar o surgimento de sintomas da doença ou até mesmo a morte do mesmo. O que impede muitas vezes que essa orientação seja seguida são os casos de ataques por animais errantes.
Em caso de mordedura ou arranhadura, é importante que lave a região com água e sabão de forma abundante, e o mais breve possível se dirija à casa de saúde próxima, para avaliação e orientação dos médicos. É de extrema importância que a vacinação antirrábica dos animais domésticos e de produção seja realizada de forma compulsória.
A prevenção sempre será absoluta frente às terapias curativas! Os cães e gatos devem receber a primeira dose da vacina antes de completarem o primeiro ano de vida e o reforço deve ser anual. Em nossa região, predominam rebanhos bovinos. Estes devem ser vacinados com 2 doses iniciais, com intervalo de 30 dias e revacinação anual de todo o rebanho. Em associação à vacinação dos bovinos, deve-se vacinar todos os outros animais existentes na propriedade, tais como, cães, gatos, equinos, suínos, caprinos e ovinos.
Para os profissionais que trabalham em áreas com risco de exposição permanente ao vírus da raiva, é de extrema importância que procurem os postos de saúde e solicitem a vacinação pré exposição, para reduzir os riscos de contrair a doença e facilitar a terapia, que será estabelecida após o contato direto com o vírus ou até mesmo após o ataque de um animal contaminado.
Deve-se sempre evitar a aproximação de cães e gatos sem a autorização do tutor, não tocá-los enquanto estiverem se alimentando, com filhotes ou dormindo. Quando encontrar morcegos ou outros animais silvestres, não tocá-los sob qualquer hipótese, mas principalmente se estiverem em situações não habituais ou caídos no chão. Nos casos de herbívoros domésticos com suspeita de raiva, é importante que o veterinário seja chamado para tomar as medidas necessárias e não se deve entrar em contato direto com o animal, mesmo que as chances de contaminação por eles sejam baixas.
Cuidar de seu animal de estimação e do seu rebanho é mais que ato de cuidado, é um ato de responsabilidade com a saúde de toda uma população! Vacinas salvam vidas e tornam os lugares mais seguros!

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