ASSIM NASCEU A PARADINHA…

A terça feira, 08 de dezembro, amanheceu chovendo, aquela chuva fininha que sobrou depois do aguaceiro da noite de véspera.
Os três sinos da Matriz badalaram ainda cedinho, chamando pra missa. Missa, em 1925, era todo dia. O Padre Carlos Muller, com português arranhado de sotaque alemão, fez o sermão da Imaculada Conceição de Maria. De resto, tudo em latim, missa cantada, coro afinado, orquestra.
Na saída da missa, a “rua” já se enchia de gente, de todos os lados. Todos estavam ansiosos para a chegada da “Maria Fumaça”, prevista, mais uma vez para a tarde daquele dia. A linha já tinha chegado no “Matosinhos”, depois que a “Central aterrou a várzea do sr. João Avellar.
Muitos já nem acreditavam que o trem chegaria. Desde 1911, se arrastavam as obras, que pararam em Penido, em 1914. De lá até a Varzea do Carmo, foram mais onze anos. O deputado Francisco Valladares tanto lutou pra linha andar, que acabou ganhando homenagem. E a Várzea do Carmo virou Valladares, em 1925.
Agora era nossa vez.
Às duas horas da tarde, o povo já se amontoava no Matosinhos, onde a Central levantou um prediozinho modesto, coberto de telha francesa com uma pequena plataforma. Pra nós era istação, mas o Dr. Jurandyr chamava de estribo. Catão, estudado, chamava de Gare, estação em francês. Nominato completava: estribo provisório, já que a estação era somente aquela que se construía perto de sua casa…
E assim foi. Às tres horas da tarde, apita a máquina pros lados do Barulho. A banda Santa Cecília rasgou um dobrado e o povo explodiu em vivas e foguetes. A primeira locomotiva a entrar em Lima Duarte saiu de Juiz de Fora às 11h30, trazendo muita gente: o grupo de engenheiros, comandado pelo Dr. Jurandyr Pires Ferreira, funcionários da Central, Dr Eduardo de Menezes Filho, presidente da Câmara de Juiz de Fora, o representante do General Estanislau Pamplona, comandante da IV Região Militar, senhoras, senhores e senhoritas da sociedade juiz forana. Vieram também representantes da imprensa. Graças a eles sabemos que de Lima Duarte, havia apenas muito povo: Dr Nominato, Presidente da Câmara de Lima Duarte, e as autoridades locais não se fizeram presentes.
E o povo explodiu em vivas ao Dr. Jurandyr e ao Dr, Pires e Albuquerque!
Falando em nome do povo de Lima Duarte, discursou o advogado Ezichio Seabra Azamor Filho, saudando os engenheiros construtores e convidando a esposa do Dr. Jurandyr para cortar o cordão verde e amarelo que impedia a maquina de chegar ao ponto final dos trilhos, sendo logo após a ilustre senhora presenteada com um belo ramailhete de flores, oferta das mulheres lima duartinas.
Às 6 horas da noite, na Pensão Oliveira, foi servido um jantar aos convidados. Aí sim, Nominato apareceu e fez discurso. Salles Duarte, representante do Correio da Manhã, também discursou. Agradeceu em nome da Central o Dr. Jurandyr Pires e homenageou os demais engenheiros construtores o academico Theobaldo Miranda.
A comitiva regressou a Juiz de Fora às 20 horas, mas em Lima Duarte os festejos seguiram por toda a noite, alcançando a madrugada.
Assim nasceu a Paradinha …
A inauguração oficial ocorreria apenas em 1º de Março de 1926, quando um trem especial veio à cidade, trazendo de novo engenheiros, autoridades, alta sociedade e imprensa.
A Parada inicialmente foi chamada popularmente de Parada do Matosinhos, numa alusão ao local onde foi erguida. Oficialmente, foi denominada Parada de Lima Duarte.
Em 1930, por ocasião da Revolução que pôs Getulio Vargas no poder, a Paradinha foi fechada por determinação da direção da Central. Ampliada em 1937, foi reaberta em 1939, virando estação e recebendo o nome de Estação Deocleciano Vasconcelos. Este nome é uma homenagem a Deocleciano Cândido de Vasconcelos, que foi Secretário e Assistente Jurídico da Estrada de Ferro Central do Brasil – E.F.C.B no período de 17 de julho de 1920 a 23 de junho de 1942.
Desativada a ferrovia em 1968, o prédio permaneceu de pé até os primeiros anos da década de 1980, quando foi sendo depredado, restando apenas a plataforma e parte da estrutura de sustentação da cobertura. Ainda assim, a plataforma seria cortada lateralmente em 1991, para alargamento da rua Francisco Valadares.

Artigos relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja Também

Fechar
Fechar