A PANDEMIA E A ZONA RURAL

A chegada da pandemia do COVID-19 trouxe inúmeras mudanças no cotidiano de toda a população mundial, seja nas áreas urbanas ou nas áreas rurais. As mudanças de hábitos e nas relações humanas foram muito mais impactantes e rápidas nas cidades, mas de forma gradativa foram sendo sentidas na zona rural, direta e indiretamente.
Diferentemente das cidades, que vimos o surgimento do home office ser completamente difundido nas mais diversas áreas profissionais, na zona rural não observamos nenhuma alteração das relações de trabalho e muito pouca alteração na rotina das propriedades. Os produtores e colaboradores continuaram a acordar cedo, produzir e se reinventar para solucionar e driblar as adversidades. Muito se teve que absorver, vindo das mudanças trazidas pelo agravamento da pandemia em nosso país. Muitos entraves já foram superados, alguns aos poucos estão sendo solucionados, mas inúmeros estão por vir e a cascata gerada será sentida por muito tempo, mesmo após o controle de a pandemia ser algo concreto. Apesar de todos os obstáculos trazidos ao campo nesse novo cenário, mais uma vez a força dos produtores rurais e a sua importância vem sendo constatada e em muito enaltecida.
O campo é uma das engrenagens que move nosso país. Devido à cadeia produtiva não poder parar, as relações campo/cidade não cessaram. A todo o momento há alguém fazendo essa ligação acontecer, seja devido à necessidade de assistência técnica, entrega de produtos essenciais para a produção animal, escoamento da produção e/ou vinda das famílias residentes nas áreas rurais até os centros urbanos. Essa circulação de pessoas acontece diversas vezes ao dia, em todas as milhares de propriedades que temos espalhadas por todo nosso país. Mesmo o campo sendo visto desde o início da pandemia como uma área segura e resguardada, sinônimo de proteção, vemos que, infelizmente, foi algo que não ocorreu.
Com o caminhar dos meses pudemos ver o cenário da zona rural sendo modificado, ganhando uma nova edificação aqui e ali, formando-se logo pequenas comunidades ao longo das estradas. Muitas foram as pessoas que adquiriram pequenas extensões de terra para terem o campo como refúgio e, em outras situações, antigos proprietários viram-se com o desejo de construírem uma casa em suas terras para poderem “fugir” do coronavírus. Todas essas pessoas que passaram a residir temporariamente na zona rural buscavam apenas a possibilidade de viverem o mais próximo da sua antiga realidade, onde as relações humanas eram mais fáceis e leves, podendo ter novamente momentos de comunhão com os seus. Esse êxodo da cidade para o campo, provocado pelo coronavírus, trouxe uma nova porta para a sua chegada inevitável ao campo.
Por um longo período da pandemia muitos dos cuidados básicos foram negligenciados e, em muitas ocasiões, até colocados em xeque pela descrença da chegada do COVID-19 ao campo. E, com a chegada das festas de final de ano, ainda mais se negligenciou sobre a necessidade do isolamento e a não aglomeração. Não é à toa que, em muitas áreas rurais do Brasil tivemos dados alarmantes como, recentemente, no Rio Grande do Sul. Hoje grande parte das propriedades passou a adotar as medidas básicas de prevenção ao coronavírus como exigência no ambiente de trabalho, contribuindo não apenas para a maior seguridade durante as horas de trabalho, mas para a conscientização dos colaboradores e de suas famílias.
As medidas básicas de proteção e de prevenção não são diferentes entre a cidade e o campo, mas devido às condições de trabalho, pode-se encontrar uma flexibilização maior durante as horas de trabalho. O uso de máscara se faz necessário em todos os ambientes, fechados ou abertos, onde há trabalho em conjunto, mas em locais de campo aberto, que se trabalha sozinho o uso ou não da máscara pode se tornar uma decisão pessoal. O distanciamento deve ser mantido com a maior frequência possível, sendo negligenciado em momentos raros e de extrema necessidade. A higienização das mãos deve ser feita o maior número de vezes possível, para a própria segurança e para evitar a contaminação de ferramentas de uso coletivo.
Muitos profissionais que realizam a conexão campo/cidade todos os dias têm a sensação de serem o veículo de contaminação dos moradores das áreas rurais, principalmente pelo número elevado de idosos residentes nas mesmas e que passam meses sem ir à cidade. Mas, mantendo-se o protocolo de segurança e os cuidados essenciais, o risco de contaminação passa a ser baixo, mas nunca inexistente. O mais importante é termos em mente que nenhum lugar é completamente seguro, isolado o suficiente e que todos, sem exceção, estão expostos nesse momento.
Um grande alento e esperança nesse momento é o caminhar da vacinação. Em nossa cidade muitas já foram as pessoas da zona rural a se beneficiar desse momento e, em muito, emociona ver pessoas que ajudam a engrenagem do agro a girar já vacinadas!

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