Por onde anda
Temos uma coluna no Jornal LD & Cia. para falar dos limaduartinos que saíram para estudar/trabalhar fora e hoje têm outra vida e família. Essa é uma forma de matarmos um pouco da saudade de nossos parentes, amigos ou conterrâneos e também de valorizar o esforço que tiveram e o estímulo que dão a tantos outros. Confira:
Nome: Bergson Cardoso Guimarães.
Sou mineiro de Lima Duarte, zona da mata mineira, terra onde estão minhas raízes e, poderia dizer, se formaram minhas primeiras impressões de existência. Nasci em Juiz de Fora, minha mãe é de lá.
Ali, na pequena Lima Duarte, na Serra de Ibitipoca, que chamávamos Serra Grande, cresci convivendo com pessoas simples e outras comunidades rurais locais. E essas primeiras amizades, experiências, alegrias, erros e obstáculos, tornam-se eternos em nossas vidas.
Meus pais, Lindomar de Paula Guimarães, foi professor, diretor de colégio e depois promotor de justiça, e minha mãe, Maria José Cardoso Guimarães, cuidava da casa, dos filhos, pintava camisas, louças, quadros, o que era comum naquela época. Adriana e Anderson Cardoso Guimarães hoje são empresários no ramo de reciclagem e materiais plásticos em Juiz de Fora.
Qual foi sua formação profissional?
Estudei no chamado Grupo Escolar Bias Fortes e depois fui pro Ginásio (Adalgisa Duque), ambas escolas estaduais. Entrei para a Faculdade de Direito Vianna Júnior em Juiz de Fora – MG e me formei em 1985. Em 2002, comecei o mestrado em Biodireito, Ética e Cidadania, com concentração em Direito Ambiental, na UNISAL, de Lorena, em São Paulo. Completei o curso em 2007. Depois, com grandes sacrifícios, em 2011 completei outro mestrado, em Direito das Relações Sociais, com concentração em Direitos Difusos e Coletivos. Isso foi na PUC de São Paulo. E já no ano de 2019, morando em Lavras, Minas Gerais, depois de quatro anos de pesquisas e estudos, completei o Doutorado em Engenharia Florestal, concentração em Legislação Ambiental e Ecologia Florestal. Isso na UFLA, Faculdade Federal de Lavras.
Tudo isso eu fazia acumulando com o cargo de Coordenador Regional de Promotorias do Meio Ambiente. Assessorava 177 municípios que compreende a chamada Bacia do Rio Grande.
Você ficou conhecido também pela produção literária e técnica. Essa sua relação com a literatura veio de onde? Alguma influência familiar?
Na verdade, comecei a escrever, como qualquer adolescente, aos 13, 14 anos. Fazia poemas e letras de músicas em Lima Duarte. Nessa idade eu tinha um gosto grande pela leitura de suplementos literários, principalmente o suplemento literário que vinha encartado no diário oficial do estado de MG, e fui aprendendo sobre a literatura de Jorge Luis Borges, Júlio Cortázar, Rimbaud, Baudelaire, Lucio Cardoso, e cavoucava livros nas bibliotecas das escolas de Lima Duarte.
Meu pai tinha uma grande biblioteca em casa também. Aí eu comecei a escrever em pequenos jornais, e lecionar direito aos 20 anos de idade, em uma escola técnica de contabilidade em Lima Duarte. Lecionei outras disciplinas de ciências humanas na escola pública, o mesmo “ginásio” onde estudei.
Já na boemia do violão, serenatas e contato com a natureza local, frequentávamos as cachoeiras e seguíamos sempre o caminho da Serra “Grande” do Ibitipoca, que na época não tinha tanta gente, comércio, jipes e eventos. Penso que esse ambiente, ao mesmo tempo de liberdade e sentimento de isolamento, criou em mim uma necessidade de expressão artística. Nesse tempo me dedicava à música, à escrita, pintava e desenhava muito.
Já adulto publiquei uma reunião de poemas em O Aprendiz, em 2004. Publiquei também em revistas especializadas vários artigos científicos nas áreas do direito socioambiental, filosofia, educação e literatura.
No início da década de 1990 comecei o estudo, como autodidata, de filosofia. Levei isso muito a sério.
A dedicação a assuntos de psicologia e filosofia me ajudou muito a compreender nossa posição no planeta, pautar nossa vida sobre valores que sejam universais e buscar mais lucidez em um mundo tão pleno de angústia.
Como é sua vida profissional?
Mais ou menos com 23 anos comecei a advogar no Tribunal do Júri, e prestar assessoria jurídica para pequenos agricultores, área possessória, e em conflitos agrários, em municípios da região de Juiz de Fora (MG). Depois de dois anos advogando na área sindical em São José dos Campos (SP) eu fui aprovado no Ministério Público de Minas Gerais, por concurso, em 1989. Tinha 26 anos de idade. Em verdade, há anos, desde o primeiro ano da faculdade, eu me preparava para esse já difícil concurso do Ministério Público. Foi para mim uma conquista, à época, dado que trabalhava e estudava com muitas dúvidas sobre o futuro.
No Ministério Público, depois de passar pela Comarca de Passa Tempo (Oeste de Minas), já na comarca de Baependi (Sul de Minas), atuei em processos de repercussão nacional como o Caso Mauro Frota (A Chacina de Baependi) que foram me trazendo experiência pessoal e profissional.
A questão da atuação ambiental veio quando, assumindo a Promotoria Única da Comarca de Aiuruoca em 1992, acabei me envolvendo mais diretamente com questões socioambientais na época, atuando com órgãos reguladores na área, apoiando a criação de entidades do terceiro setor, ajuizando ações civis públicas, efetuando acordos coletivos e apresentando programas pioneiros de atuação específica nessa área ambiental. Aí esse trabalho na área ambiental na região valeu-me, por exemplo, no final de 1999, um convite para ministrar palestras no Norte da Alemanha em Aurich e Leer, região de Hannover, onde se considerava, à época, a região de maior avanço na educação ambiental. Posso dizer que assim foi se adensando minha ligação e interesse com a área ambiental. Já entre 2015 e 2016 fui convidado pelas Universidades de Berna e Lucerna, na Suíça, para falar sobre a realidade ambiental do Brasil. Lá dei entrevistas para a imprensa local, e fui recebido por várias autoridades e diplomatas.
Casou-se com limaduartina? Teve filhos?
Trabalhando como Promotor em Baependi, ali conheci minha esposa. Casei-me com Patricia Felizalle em 1992, e tivemos os filhos Raíssa, que é de 1994, depois veio a Débora em 1997, e, fora dos planos, mas coroando nossa alegria, veio o Eric em 2004.
Esses projetos que você criou ou atuou, como funcionam?
Entre os anos de 1992 e 1998 levamos a cabo um programa pioneiro que levou o nome de PROJETO EVASÃO PONTUAL-EDUCAÇÃO INTEGRAL. Isso nos sete municípios da comarca de Aiuruoca. Isso ocorreu em tempos onde a evasão escolar apresentava índices altos em algumas regiões do Brasil e ainda não havia qualquer institucionalização e tradição nacional de atuação do Ministério Público nessa área.
Mas e essa ligação e dedicação com ás águas? Seu nome continua ainda muito ligado a questões hídricas, como foi isso?
Assumindo a Promotoria Única da Comarca de Caxambu, Sul de Minas, no início de 2001, comecei a lidar mais diretamente com questões socioambientais envolvendo a exploração predatória de águas subterrâneas no Circuito das Águas Mineiro.
Assim, produzi trabalhos técnicos sobre recursos hídricos, publiquei artigos e efetuei muitas palestras sobre o assunto, na região do Circuito e em vários eventos nacionais e internacionais de discussão socioambiental. Cheguei a publicar um livro sobre os conflitos na região.
Em 2009, por convite de vários integrantes de nossa Administração Superior, do Minstério Público, assumi a COORDENADORIA REGIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DO MEIO AMBIENTE DA BACIA DO RIO GRANDE, CRRG, que tem sede em Lavras. Fui o primeiro coordenador, e hoje ainda tenho a função de assessorar 79 Promotorias de Justiça do Meio Ambiente do Sul de Minas, e dar apoio técnico indireto a 177 municípios da Bacia do Rio Grande.
E hoje em dia você está trabalhando com tais áreas?
Gosto muito de lecionar e dou aulas de direito sanitário e meio ambiente em Belo Horizonte, na Fundação Escola Superior do Ministério Público e outros cursos de pós-graduação de forma esporádica.
Reassumi a Comarca de Caxambu no ano de 2018, Promotoria Única da qual sempre fui titular. Nós chamamos essas promotorias únicas, como é o caso da Promotoria de Lima Duarte, de “clínica geral”. É que temos atribuição de atuar na área da saúde, improbidade administrativa, criança e adolescente, eleitoral, criminal, cível, etc, e, às vezes, não é fácil dominar tanta legislação e assuntos.
Assim, acumulo, atualmente, tais funções com a de Coordenação Estadual do Núcleo Integrador para Tutela das Águas (NUTA), órgão do Ministério Público incumbido de assessorar em questões envolvendo conflitos e crises de disponibilidade pelo uso da água, programas de saneamento básico, políticas e projetos de recursos hídricos, e atuação e acompanhamento de conselhos e órgãos de gestão na área hídrica e de saneamento.
Como é sua relação atual com Lima Duarte?
Deverei terminar minha carreira em Belo Horizonte, mas agora, com mais de trinta anos de Ministério Público, estou me preparando para regressar a Lima Duarte. Minha família (esposa e filhos) já mora em Juiz de Fora. Quero aproveitar toda essa minha experiência profissional, de relacionamentos, enfim, de vida, para construir algo pelo coletivo em nossa terra. Estamos iniciando um trabalho com a Fundação Toyota, com apoio da Comuna do Ibitipoca, e estaremos procurando a Prefeitura e a AMAI, de Ibitipoca, para parceiras em gestão territorial. E estamos muito entusiasmados com isso.