GESTÃO DO PARQUE DE IBITIPOCA PODE SER TERCEIRIZADA
Ainda em meio à discussão acirrada sobre o número ideal de visitantes, o Parque Estadual de Ibitipoca agora tem outra grande novidade. O Governo do Estado de Minas Gerais acabou de lançar o Programa de Concessão de Parques Estaduais 2019-2022. Nesta primeira fase, serão entregues para a iniciativa privada a gestão de 20 parques estaduais, entre eles o de Ibitipoca. O objetivo do programa é promover, com parcerias com o setor privado, a gestão dos serviços prestados aos visitantes, com maior qualidade e especialização. O vencedor da concessão poderá oferecer, nas unidades de conservação do estado, meios de hospedagem, venda de alimentos e bebidas, atividades de lazer e aventura e venda de souvenires.
Arraial busca equilíbrio
Com mais de 300 anos de história, o Arraial viu seu número de visitantes saltar de cerca de 50 mil turistas, em 2011, para mais de 86 mil, em 2018, e cresceu ao redor do Parque, destacando-se no ramo do turismo ecológico. Mas moradores e comerciantes reclamam que a infraestrutura da vila não acompanhou essa demanda, pois, em feriados, falta água, energia elétrica, saneamento básico e o trânsito fica caótico.
Entre os cerca de mil moradores do lugarejo, muitos vivem do turismo e discordam da redução de 1,2 mil para 600 visitantes por dia no Parque. Mas há quem admita a falta de estrutura, que a natureza local sofre prejuízos e que é necessário encontrar um equilíbrio entre a economia e o meio ambiente. Há também quem acredite e busque passeios alternativos, uma vez que toda a região é muito linda e possui outros atrativos à altura de Ibitipoca.
Os sócios de uma empresa de turismo, Ana Paula e Gabriel, estavam a favor dos 600, pois sabem que o parque precisa de mais infra estrutura para receber mais visitantes. Mas consideram que, melhorando essa infra estrutura, também é possível aumentar o número de visitantes e “a nova gestora já começou a fazer essas intervenções necessárias, gerando menos impacto no meio ambiente. Eles também defendem a utilização de voluntários de outras regiões, para ajudar no monitoramento dos visitantes e, assim, melhorar a comunicação e segurança, principalmente nas trilhas mais longas. “A mudança na gestão já está fazendo diferença e irá melhorar a infra estrutura, com custo baixo. Lutamos por um turismo de qualidade, tanto para o turista como para a comunidade e meio ambiente”, completam.
Para o proprietário da Lanchonete no Parque, Paulo Ricardo Rodrigues Campos, a nova gestão do Parque deu fôlego novo, com novas idéias, cursos e projetos sendo colocados em prática. Ele considera que o número de 600 turistas é suficiente em termos ecológicos, mas não é o ideal para a comunidade, que vive do turismo. Ele acredita que esse número pode ser ampliado e, assim, ele também amplia sua empresa, para atender à maior demanda. Mas, caso o número de 600 seja mantido, irá ficar com seus quatro funcionários e reduzir custos, para se adequar à realidade econômica.
Já o turismólogo Márcio Lucinda acha que a 1ª redução, para 800 visitantes, teve um trabalho e aceitação bons. Mas, para ele, o aumento para 1200, com poucas trilhas, sem planejamento de uso público e grande fluxo em um ponto, gerou pisoteamento nas trilhas e superlotação. Márcio considera que 600 visitantes é pouco para o público do arraial, mas tem que haver um meio termo e melhorias, com o estudo de capacidade de carga da UFJF. “Tem que estudar o fator sócio econômico. Sempre fui contra 1200 visitantes, pelo formato de gestão de uso público que existe. Não adianta estudar só o meio físico e biótico e o impacto que o turista gera, esquecendo que o arraial depende do turista”, analisa.
A empresária Sueli Campos ressalta quea crise geral do país e a redução de visitantes agravou ainda mais a situação. Ela já teve que fazer remanejamento de diaristas e outros cortes na Pizzaria. A preocupação de Sueli é não só com o número de pessoas, mas com a capacidade que o Parque realmente suporte, sem destruição de trilhas. Ela acha que 600 é pouco e 800 é o ideal, mas que deva ter uma organização dos turistas em cada local, para não haver superlotação nas trilhas. “É preciso fazer um turismo consciente, limitando pessoas em cada trilha e colocando mais funcionários e monitores para controlar”, considera. Para Sueli, o Arraial depende do Parque, mas é preciso criar rotas alternativas, já que o entorno é lindo. “A Vila depende do turismo e já busca outros atrativos, mas o Parque é mais forte. E o Arraial está sentindo os impactos da queda do número de visitantes”, considera.
As restrições:
As restrições ao turismo em Ibitipoca começaram em 2006, com um limite de 800 pessoas por dia. Em 2015, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) liberou a entrada de até 1.200 turistas por dia, apoiado na justificativa de ter realizado melhorias na estrutura. Após a ampliação, a Promotoria de Justiça de Lima Duarte recebeu denúncias apontando que, entre outros pontos, a nova regra trazia danos à flora e danos ao solo do parque, além de contrariar o plano de manejo e trazer demanda incompatível com o total de funcionários. Em 2016, o MP abriu investigação e um estudo preliminar da capacidade de carga apontou o limite de 600 visitantes por dia.
Em março de 2018, a Promotoria fechou um acordo extrajudicial com o IEF, que se comprometeu a adotar o limite de 600 pessoas. Entre 2015 e 2018, o IEF chegou a permitir a entrada de 1.200 visitantes. Após denúncias, um acordo extrajudicial estabeleceu a restrição atual de 600 visitantes/dia como parte das medidas de reparação. O inquérito ainda está em andamento e essa limitação pode mudar. O próximo passo é aguardar o resultado de um estudo mais aprofundado, que será feito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e financiado pelo MP.
O acordo do MP com o IEF também prevê implantar trilhas suspensas, venda online de ingressos e ações de educação ambiental, além da elaboração de um plano de monitoramento de trilhas e outro de manejo para as grutas.
Nova Gestão
A nova Gerente do Parque Estadual do Ibitipoca, Clarice Nascimento Silva, assume com vários projetos, com a diretriz máxima de melhorar o ordenamento da visitação. Para isso, já foram realizados os cursos de capacitação em manejo de trilhas e sinalização. Também foram implantadas novas ações para controle de fluxos de acessos, sinalização normativa e educativa, com técnicas de baixo custo e recursos locais.
Para Clarice, a visitação do Parque não deve ser considerada como um impacto negativo para a unidade. Ela ressalta que apenas 02% da área total do Parque é usada para visitação. O restante é sem uso, reservada à conservação e pesquisas. Nestes 02%, existem problemas de erosão em alguns pontos, mas não é causado por uso das trilhas pelos visitantes. São erosões causadas pelas águas das chuvas, onde a drenagem precisa de técnicas de manejo adequadas, que já estão sendo aplicadas pela equipe do Parque.
A gerente explica que o número de visitantes não deve ser considerado como fator causador de danos ambientais na unidade mas, sim, o comportamento deles. Para isso, o Parque está trabalhando com ações para induzir a conduta adequada do visitante, através do manejo e sinalização das trilhas e atrativos e proporcionando mais e melhores informações, para que o turista tenha uma experiência positiva. Tudo isso está sendo feito com o envolvimento do trade turístico local. Campanhas educativas e informações sobre o número de visitantes têm sido feitas através das redes sociais.
Sobre a experiência dos visitantes, ela comenta que “o turista precisa estar preparado para visitar as belezas do Parque, mas conviver com vários outros visitantes na mesma trilha. Ninguém vai achar o Parque vazio e viver uma experiência mais selvagem nos dias de feriados e temporada”, considera. “Futuramente, o Parque poderá planejar roteiros com experiências diferenciadas, para públicos diferentes.”
A gestora afirma que medidas de monitoramento e manejo, que não estavam sendo feitas, estão sendo aplicadas e que estão sendo cumpridas as cláusulas do Termo de Acordo firmado entre o Ministério Público Estadual e o IEF, para que o número de visitantes volte a ser aquele definido por estudo feito pelo IEF em 2014.